CONSTRUÇÃO

E na construção inacabada de nossa casa, na sala sem porta e com reboco por fazer, você me mostrou as últimas evoluções da obra. Na minha rígida vistoria dos sábados de manhã, percorri a sala com críticas a saltarem da língua.

Antes mesmo de me deixar falar alguma coisa, você me abraçou e ensaiou alguns passos de dança. Falou baixinho enquanto me conduzia pela sala: “É aqui que a gente vai dançar muitas vezes”.

Fiquei surpresa e sem saber nem o que falar, mas me pus a dançar também. E a gente dançou ao som dos nossos planos, no silêncio tranquilo de quem abraça matando saudade de uma semana.

Estávamos sozinhos, nós dois e as paredes de concreto sem tinta. No meio de tanta poeira e de tantos cômodos, a gente dançou juntinho por alguns instantes.

Muito falta por fazer e hoje ainda é quarta, espero que no sábado de manhã, antes de qualquer reboco, porta ou tinta, dançar com você de novo. De rosto colado, sem música, escutando apenas sua respiração e a nossa vontade de estar ali.

Madalena Sofia Galvão Viana
Enviado por Madalena Sofia Galvão Viana em 14/09/2011
Reeditado em 14/09/2011
Código do texto: T3220136
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