O amigo,o mel e o visitante
Numa montanha afastada muitos quilômetros da vila mais próxima, morava um apicultor. Ele mesmo escolheu morar longe dos povoados, só descia para negociar seu mel quando findava uma florada. Preferia as abelhas e suas feridas fiéis e seu mel. Ele amava sua montanha e seu trabalho, suas colméias ficavam na mata e conforme as árvores floriam ele recolhia o mel das colméias ou as mudava de lugar.
Gostava de pensar que suas abelhas eram livres, compartilhavam com ele seu mel e ele as ajudava e protegia. Sempre provava o mel e conseguia saber exatamente quais as flores que forneceram o pólen daquela safra.
Recebia poucas visitas, pois quase ninguém sabia quando estava em casa e era de pouco assunto, seus interesses eram a montanha, a mata e o seu mel, isso era o que sabia ter de melhor. Quase que não tinha amigos, mais era feliz. Não lhe faltava nada.
Um dia chegou um visitante a um vilarejo a alguns quilômetros da montanha do apicultor. Foi exatamente no dia da feira e quis comprar mel. Quando provou o mel ficou extasiado, perguntou da origem tipo de abelhas e como era recolhido. Mas ninguém sabia de nada a não ser que era o homem da montanha que trazia o mel para feira. E apontavam para a imponente montanha.
O visitante então decidiu ir até a casa do apicultor, e se pôs a caminho, seguindo as trilhas que o homem da montanha deixara ao subir e descer de sua casa. Quando chegou, o apicultor foi logo a seu encontro, era tão difícil alguém subir até ali, sorriu e ficou contente com visita, no seu coração recebeu o visitante como um amigo.
Falou-lhe da montanha e das arvores e flores. Ofereceu ao seu amigo visitante o melhor do que tinha na casa e no coração. Mais por uma razão que jamais compreendeu todas as manhas depois do café, o visitante dizia que estava provando o mel e aprendendo sobre o lugar porque estava ali e que nunca poderia ficar naquele lugar, mesmo sendo lindo. O apicultor não sabia por que ele falava assim, nunca tinha pedido nada a ele, tudo que lhe ofereceu, o fez porque era generoso e queria partilhar inclusive seu coração de amigo. Então quando chegou o tempo o visitante partiu.
Depois disso sempre voltava com as mesmas palavras de desapego, que começavam a incomodar o apicultor e se ia de novo. Havia uma parte mais remota da mata de altas árvores o apicultor há muito gostaria de colocar uma colméia lá. E pensando que se tudo desse certo teria um mel de sabor raríssimo e quem sabe da próxima vez que seu amigo aparecesse talvez esse mel adoçasse aquelas palavras amargas que sempre trazia consigo.
Na mesma manhã que partiu para colher o mel, o amigo visitante subia mais uma vez a montanha para revê-lo. Esperou o dia todo o apicultor não voltou. Na mata onde fora havia chovido muito e a corda que usava para segurar-se escorregou e ele não resistiu à queda. Como nunca souberam exatamente como era a vida do apicultor muitos acham até hoje que ele foi embora, outros acham que morreu no meio da mata.
Ao ver que não adiantava esperar pelo apicultor, o amigo visitante foi embora, e nunca soube do mel raríssimo que quase foi seu.