Dez'encontros (1)
Foram tantas às vezes que marcaram um encontro que até já estavam desacreditados. Sempre acontecia algo que os impediam de se ver. Já estavam na décima tentativa. Era fato que as circunstâncias não eram nada favoráveis, mas era preciso acabar com tudo aquilo, e logo. Tanto ela como ele estavam preocupados com a situação. Entre o desejo e a ética, entre o prazer e o respeito ao outro ou aos outros, melhor dizendo. Entre razão e coração. Mas nenhum confessava sobre seu temor.
Realmente era importante avaliar bem, para que não se arrependessem depois. No entanto, ambos sabiam dentro de si mesmos que, uma hora ou outra, iriam se encontrar. Não conseguiriam conviver com aquela sensação de que deixariam algo para trás, o sentimento de frustração e ainda, considerando as possibilidades, as possíveis...
E se...
Com certeza, concluiriam que seria bem melhor que se arrependessem por algo que fizeram, do que por algo que não fizeram. Por isso o décimo encontro não poderia ser de desencontros e sim de encontro.
Foram vários telefonemas, torpedos, até os créditos se esgotarem. Mas o mais importante era que daquela noite não podia passar. Ele pedindo o telefone do amigo pra ligar, ela ligando a cobrar pro amigo dele. Até mesmo o cartão de orelhão que caiu em desuso precisou ser usado.
Tudo certo. Local, horário, o que diriam, o que fariam, tudo minuciosamente programado. Desta vez, nada faria com que voltassem atrás. Seguiram tudo conforme o combinado. Porém, imprevistos sempre podem surgir. E a única coisa que não estava prevista para aquela noite era a reação que teriam quando estivessem um diante do outro.
Silêncio.
As palavras simplesmente desapareceram. Apenas caminhavam, porque já sabiam pra onde ir. Durante o trajeto, algumas perguntas esporádicas e muito objetivas, com respostas exatas, por isso sem sequência.
Silêncio.
De repente, um sentimento de alívio, chegaram. Pronto. Encontro consumado. E agora?
Silêncio.
Trocas de súbitos olhares.
Silêncio.
E assim permaneceram durante todo o tempo, usando e aproveitando o silêncio da melhor forma possível.
Ao final, saíram pra brindar com grande êxito, o que em pouco tempo passaria a ser considerado "ex" encontro. Afinal, nada de errado acontecera e o momento merecia ser comemorado. O negócio agora era permanecer em silêncio. Voltar pra casa e começar tudo de novo.
Foram dez encontros...