Rir é Lindo!
 
"Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
"
Vinícius de Moraes

Adepta aos textos de humor, já me acostumei à ausência de adjetivos que os associem à beleza: "belo" e "lindo", nem pensar! "Bonito", só se vier acompanhado da expressão “hein?”, uma repreensão por alguma idéia ou fato politicamente incorreto apresentado na ânsia de arrancar sorrisos (no mínimo), risadas (sucesso) ou gargalhadas (é a glória!!!).

De fato, quando alguém usa a palavra “lindo” para elogiar uma piada, passa a impressão de que, ou não prestou atenção, ou não achou a menor graça, o que, para o seu autor ou narrador, é muito, muito triste.

Li, recente, em algum lugar, que o que provoca o riso é o ridículo, o condenável, o pernicioso. Ora! Quem, em sã consciência, julgará belo o ridículo, o condenável, o pernicioso?

Lindo é o motivacional, belo é o sofrimento, bonito é o ingênuo. Taí! Uma exceção à minha teoria sobre a pouca compatibilidade entre beleza e humor: o ingênuo pode ser engraçado e, vindo de uma criança, certamente será cuti-cuti, ainda que nos faça rir.
Fora isso, o risível é feio, é patético, é errado, características que imediatamente excluem os padrões de perfeição comumente aceitos.

Isso explica porque tantos escritores optam por produzir fábulas adocicadas, lacrimosas despedidas, rancorosas desilusões, densos apelos sociais... Afinal, por artista, entende-se aquele que faz arte e, pela arte, busca-se alcançar a perfeição da estética.

Sendo assim, cabe a pergunta: quem faz humor, faz arte?
Faz! Claro que faz! Afinal, se o engraçado dificilmente será belo, o riso é lindo!