Notas Manchadas
Foi amplamente divulgado pela mídia a medida tomada pelos banqueiros, para aumentar a segurança de seu negócio, levemente ameaçado por uma série de assaltos aos caixas eletrônicos.
A transação com o dinheiro roubado foi dificultada, por meio de dispositivo que derramava tinta colorida manchando as notas, no momento do assalto aos caixas eletrônicos.
A mídia também divulgou: quem dormir no ponto e receber notas manchadas de tinta irá arcar com o prejuízo, pois as notas não seriam trocadas.
Entretanto, é importante lembrar que existem outras notas manchadas, como disse o estadista inglês Churchill, com o sangue, o suor e as lágrimas dessa grande diversidade denominada povo brasileiro.
Esse dinheiro é proveniente dos assaltos aos cofres públicos realizados por nossos “Honoráveis Bandidos”, expressão criada por Karl Marx e tão bem pinçada pelo jornalista Palmério D’ória para titular seu livro- documento sobre essa prática criminosa.
Esses assaltos aos “caixas públicos” são realizados por conhecidos, respeitáveis e celebrados “marginais institucionais”. Além disso, são realizados sem a utilização de explosivos, maçaricos e os agentes dessas “organizações criminosas” não utilizam máscaras, pois sistema de poderes lhes garante a impunidade. Honoráveis bandidos, marginais institucionais...
Essas organizações criminosas têm forte e ativa representação nos três poderes dessa nossa república infestada de roedores e pela prática de defesa corporativista de seus pares, exclusive honrosas exceções.
A arma utilizada pela eficácia dessas organizações é o poder institucional, que lhe foi outorgado pelos eleitores. O resultado é amplamente conhecido: escândalos financeiros (entre muitos outros: Coroa Brastel; Sulacap; Banestado; Banco Santos e o mais recente o banco do homem –show da TV brasileira); intermediações entre representantes dessas “organizações criminosas”e empreiteiras, ou prestadoras de serviços ou, ainda, fornecedores, que resultam em polpudas comissões sobre os valores contratuais (contratos muitas vezes protelados a fim de serem executados em regime de urgência, para fugir da legislação sobre licitações); tráfico de influência; orgia de privilégios; e, creiam, até roubos de bens patrimoniais (obras de arte; equipamentos; e utensílios que deveriam ser incorporados ao patrimônio da instituição pública).
Esse volume enorme de dinheiro assaltado dos cofres públicos que encarecem muito os investimentos públicos, que desviaram dinheiro da educação; dos projetos sociais; da saúde; do transporte; que desviaram recursos para “salvar instituições financeiras”; que favorecem de forma aviltante empresas privadas com “empréstimos maternais” das instituições financeiras estatais; que serviram para aumentar meteoricamente o patrimônio desses “marginais institucionais”; e que navegaram para paraísos fiscais, podemos até não perceber, pois a coloração não é física, mas está manchado do sangue, suor e lágrimas do povo brasileiro.
Assim como os banqueiros, o que poderíamos fazer para dificultar a transação com esse dinheiro? O que poderíamos fazer para que esse dinheiro voltasse, pelo menos em boa parte aos cofres públicos? O que poderíamos fazer para que esses “honoráveis bandidos”, esses “marginais institucionais” deixassem de ser tratados como “heróis big brothers”, como “celebridades” e fossem tratados como bandidos e marginais da maior periculosidade?
Preocupações mais do que justas, pois instituição e seus cargos, criados para gerir a coisa pública com objetivo do bem comum, são utilizados para assaltá-la.
Nossa opinião é que:
houve um grande desvio da representação popular. Os partidos e a maioria dos parlamentares que deveriam fazê-lo representam muito mais seus financiadores de campanha do que os seguimentos sociais;
as instituições religiosas estão muito mais voltadas para que seus representantes defendam seus dogmas do que a um projeto de desenvolvimento do homem e da sociedade;
as organizações sindicais; os conselhos e outras organizações, da mesma forma como as religiosas, tem característica corporativista, estão dominadas por lideranças comprometidas com interesses partidários, ou seja, não estão, também, voltadas para o desenvolvimento do homem e da sociedade; e
as classes privilegiadas, como os servidores públicos, e aqueles com grandes volumes de capital para lhes garantir complementação de aposentadoria, da mesma forma, tem suas lideranças e gestores comprometidos com partidos políticos.
Acredito que entre essas organizações criminosas deva existir o mesmo jargão dos outros marginais : “está tudo dominado”...
Assim, para alterarmos essa situação entendemos que deveria surgir dessa grande maioria omissa e que delega por comodismo, mudança de comportamento voltada para tornar-se, independente dos interesses partidários e religiosos e com um projeto de participação efetiva na construção de sociedade mais justa e digna.
Na prática teríamos muito mais movimentos sociais voltados para pressionar os poderes a: aumentar os percentuais dos orçamentos da União, Estados e Municípios para educação, saúde, projetos sociais, segurança e investimentos em infra-estrutura. Na prática teríamos: muito mais movimentos sociais voltados para pressionar o banimento de corruptos dos três poderes; e mobilização social para pressionar o governo a negociar suas dívidas de forma a permitir que despesas e juros com a mesma não atingissem esses percentuais absurdos, que cinicamente e anualmente estão estampados no Orçamento da União.
Enfim, a sociedade estaria organizada independente da manipulação da mídia, dos partidos e das religiões para lutar de forma não violenta muito mais por esse projeto de sociedade por ela mesma construída, do que exclusivamente mobilizada para atender os clamores da mídia, das lideranças partidárias ou religiosas, ou quando muito por “clamores umbilicais” a reajustes e aumentos salariais.
Numa simples, mas honesta análise, é fácil para qualquer um de nós concluir: “a construção de sociedade melhor e mais justa dispensa a violência, mas exige; organização, participação e mobilização de todos os cidadãos, além de desobediência, inclusive à lei, quando esta promover a injustiça”.
Avante maioria omissa! Assuma seu condomínio, seus sindicatos, seus conselhos de classe, a gestão de seus fundos de pensão, criem células cidadãs em suas igrejas, templos, terreiros e criem um projeto de reconstrução da sociedade.
Avante maioria omissa, da qual muitos estão incomodados de fazer parte, permita-se novo sentido à vida.