58 ou 85, dá no mesmo?
Rebeliões e revoltas aqui, no Chile, ali. Manifestações hostis de setores da população contra as forças constituídas pelas autoridades para a manutenção da ordem. “Militarização das áreas pobres”. É o que vemos na TV. Estamos em 2011.
Em meio aos setores da população que promovem a desordem, vamos encontrar negros, pobres, desempregados, moradores de rua, drogados, etc. As pessoas próximas à elite ou dentro dela não precisam incendiar ônibus ou carros. Não precisam enfrentar a guarda municipal para vender, proteger ou ficar com as suas bugigangas. Os que promovem a desordem são os que devem ser criminalizados.
O político, como a deputada filmada recebendo dinheiro de propina, ao invés de ser detido e criminalizado, é libertado por seus pares, com o consentimento da sociedade.
O somatório de ilícitos como esse, perpetrados há anos por pessoas de bem, pode motivar os ilícitos anti-sociais atribuídos a setores da população que não tenham os mesmos direitos e prerrogativas das chamadas pessoas de bem.
Bem feito! Quem mandou não estudar.
Celas onde cabem 36 colocam mais de 300. Não é nem preciso pendurar o cara pelo pênis pra que se configure a tortura. A superlotação já é uma tortura. E às vezes, no meio dos 300, está um cara, detido apenas porque “acharam” uma guimbinha de maconha na sacola dele.
Os índios são presos e torturados pelo simples fato de pretenderem habitar a terra em que sempre viveram. Você já deve ter ouvido falar nisso.
Aída Curi, quem não lembra? 1958. Na época foi alarmante o impacto. Tanto que a gente não esquece. Hoje seria apenas mais um crime. Pelo que se noticiou, dois caras jogaram a jovem (18 ou 23 anos) do terraço de um edifico de 12 andares, em Copacabana. Provavelmente por ela ter resistido aos assédios da dupla, que contaria com a cumplicidade, inclusive voyeurística, do porteiro do prédio. Um deles foi preso e condenado. O outro, inimputável à época, conseguiu depois evadir-se para o exterior, após ter assassinado um vigia de automóveis. O porteiro, após ser absolvido no segundo julgamento, simplesmente sumiu. O estardalhaço na mídia foi grande, face ao número de pessoas influentes, inclusive militares, que tentaram (e conseguiram) proteger os acusados.
É claro que você que nasceu em 85 e se formou em engenharia, medicina nuclear ou nanotecnologia não se lembra disso. Mas isso está no seu sangue, transmitido por seus avós, pais, tios, etc. Como no sangue do morador da periferia, que vai ao lixão para reciclar o que puder na tentativa de sobreviver, ainda que sem dignidade.