Eu também torci por Angola

Na condição de cronista social, sinto-me satisfeito por, finalmente, comentar a respeito de um evento social, ainda que visto apenas pela televisão. Foi o Miss Universo 2011, sediado no próprio Brasil, como está na moda, e vencido pela simpática Miss Angola. Em verdade, houve quase unanimidade a respeito de Leila Lopes, hoje a mulher mais bonita do universo. As exceções foram, naturalmente, o cronista Dom Canuto, que considera que o título caberia melhor à sua vó Leonô, e provavelmente algum marciano, insatisfeito por não ser representado.

Pois eu assisti ao concurso, embora não estivesse em condições de fazer análises mais apuradas sobre as candidatas. Gosto das mulheres, e gosto mais ainda das bonitas. Agora, não me peçam para compará-las entre si. Acho que elas estão muito bem do jeito que estão, uma por país. Sou o tipo de homem que de vez em quando encontra mulheres tão encantadoras no ônibus que tem vontade de caminhar até elas só para dizer: “Conseguiu!”. Pele, cabelo, maquiagem, brincos, esmalte, roupa, sapato. Tudo o que as mulheres fazem e usam apenas para ficarem bonitas. Eu diria a ela que conseguiu, e ela provavelmente não entenderia, e me teria como louco. Acontece que eu sou uma pessoa que se encanta facilmente, e por isso não poderia mesmo ser jurado de concurso de miss.

Na falta de outro critério, usei o do patriotismo. Torci pela brasileira. Hoje em dia, não é tão fácil assim torcer pelo Brasil – achamos sempre que tem alguma coisa por trás, alguma sujeira envolvida. No fundo isso é culpa da CBF. Mas eu torci. Torci com o pé atrás, é verdade: brasileiro que é brasileiro sempre está preparado para o pior. Mas, contra todas as expectativas, a brasileira foi avançando. E chegou à fase das perguntas. Foi então que Hélio Castro Neves, também conhecido como Felipe Massa, perguntou o que ela faria para acabar com uma guerra. A brasileira, ao invés de dar a resposta óbvia e acertada, que seria chamar o BOPE, falou que iria conversar com a pessoa – Obama, talvez? – para que respeitasse as pessoas, porque toda guerra é desrespeito, e coisa e tal.

Já nessa etapa, mais da metade dos brasileiros, esse povo solidário, já havia desistido da vitória e agora torcia descaradamente para Angola. A angolana teve que responder o que mudaria no corpo dela e, provando que não era mesmo brasileira, disse que não mudaria nada e que estava satisfeito com o corpo que Deus lhe dera. E falou isso com tanta graça, simpatia e timidez que foi impossível não torcer por ela – especialmente depois que a campainha do tempo tocou enquanto ela ainda respondia. Ela também já havia se atrapalhado ligeiramente com o vestido. Mas a plateia não havia dado a mínima para isso, e já a aclamava como vencedora.

Da minha parte, sou um homem calejado diante da injustiça. Já vi muita coisa. Corinthians campeão em 2005. Restart melhor banda de rock. Dado Dolabella vencendo a Fazenda. E por isso achei que no fim das contas a vitória ia ser mesmo das Filipinas ou da Ucrânia. Sou brasileiro, sei como as coisas são. Felizmente, não foi o que aconteceu. A vitória veio para Angola mesmo, e eu, não sei porquê, achei então que ainda havia um pouco de esperança para o Universo que agora tinha a sua miss.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 14/09/2011
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