TÚNEL DO TEMPO
Túnel do Tempo.
Eu entrei no túnel do tempo através do sonho, e voltei quarenta e cinco anos em busca de coisas vividas no passado. Eu estava em casa; na casa onde vivi até os quinze anos de idade, e me via como menino ainda. Minha mãe estava lá, os amigos com quem eu costumava brincar também estavam; as ruas poeirentas, o casarão semi-destruido ao lado do nosso, tio Heron, tia Teresa, e outras pessoas que não reconheci, sentados no degrau da calçada jogando conversa fora; era fim de tarde, e os últimos raios de sol estavam se escondendo no horizonte distante.
De longe alguém gritou; _"hei, Jerónimo o Herói do Sertão já vai começar!” Era Paulinho, nos convidando para ouvir a novela de Rádio. Quando cheguei à casa, vi que tudo estava mudado; não tinha mais o portão lateral por onde a gente entrava nos tempos passados; a entrada agora estava sendo feita pelo galpão construído por meu pai, onde pude ver que a parte interna estava rebocada e toda pintada de branco; a parte externa não estava rebocada, ainda estava lá os vãos das janelas, o grande vão da porta, e o piso ainda de barro.
Sentado no degrau da porta tinha um senhor bastante idoso, a quem eu não reconheci, cumprimentei-o, e entrei no grande galpão; na porta que dava acesso à casa, tinha em pé uma moça, que também estava faltando na minha memória; eu não estava encontrando os personagens que eu gostaria de encontrar; Paulinho, Edna, Có, tia Justina e tio Josué, eles não estavam lá; a voz que eu tinha ouvido no começo do meu sonho, era apenas um eco do passado; a moça que me atendeu na soleira da porta não soube me explicar; percebi que era muda, dei-lhe as costas e fui saindo devagar, lutando comigo mesmo para não acordar, e me perguntando o que teria acontecido.
Acordei banhado em prantos. E quando voltei de minhas andanças pelo oco do mundo de meu Deus, soube que Edna havia morrido.
Cheguei a conclusão de que recordar não é viver; recordar é morrer aos poucos.