Sinto muito! (Desejo de igualdade)
A dor histórica que transpassa a alma do homem e da mulher negra não vende imagens veneráveis.
O indiscreto dividendo social encheu de tudo os que tinham tudo e de nada, encheu os miseráveis açoitados, esses foram obrigados a marchar em direção ao templo das esperanças, as próprias casas de onde haviam sido chutados.
Igualdade social e soberania branca venderam-nos esse sonho. Compramos a posse de um pedaço de terra localizado à sombra da árvore frondosa do medo. De mãos esticadas resolvemos sobreviver, como afro descendentes; herdamos o patrimônio líquido da divida dos senhores, à nossa mesa vieram os perdões da liberdade, a divida aumentou, quiseram nos enganar sinalizando a mão branca que estendida se apiedou do nosso sofrimento e resolveu empunhar uma caneta para nos livrar, era mais uma falsa divida que os patrões derramavam sobre nossa cara envergonhada. A EDUCAÇÃO fora negada por mais de duzentos anos, queriam de fato a igualdade? Quantos somos nas universidades? Talvez a resposta esteja ancorada no mar do preconceito histórico da humanidade. 70 % dos negros trabalham em serviços não técnicos; 80,9% das mulheres negras ganham até dois salários mínimos; 62% dos homens negros ganham até dois salários mínimos; 80% dos negros moram em favelas ou em locais insalubres; 87% das crianças fora das escolas são negras; somente 47% dos negros concluíram o segundo grau; 40,25% dos homens negros são analfabetos, contra 18,5% dos brancos; somente 1% dos negros completa a faculdade... Mas não nos detemos na platéia. Estamos descendo das favelas e entrando nas escolas, para assumir a função de professores, gestores, pedagogos, advogados, médicos, jornalistas, dramaturgos... Sabemos que outros tantos irmãos continuam na cozinha, nos semáforos, do lado de baixo das pontes e dos viadutos...
As nossas escolas públicas precisam falar a verdade e traçar caminhos de esperança, acreditar que nem tudo está perdido, somos os olhos do povo, precisamos promover a revolução das vontades e a nossa vontade é acertar na conjugação do verbo, falar de nós para os nossos, cantar, sorrir, não nos corrompermos pelos livros “didáticos” que não contam a nossa história nem nos representam... fazer gritar a cultura da periferia, ouvir os jovens, perceber os idosos, compor uma canção que fale de paz, mas não esconda a guerra diária contra a humilhação...
Sinto muito, mas não dá mais pra ficar parado, sua revolução é você, sua liberdade é você, escolhendo livros, consumindo o néctar da poesia, entendendo a força que brota de cada irmão, não se deixando enganar pelos opressores, fincando o pé atrás da felicidade!
Sinto muito, não dá mais para sobreviver alimentados pelas sobras!