QUASE VIRO CIGANA
Lembro de situações vividas quando ainda era um bebê. Isso aconteceu quando eu tinha um ano e poucos meses. O mais interessante é que só eu consigo lembrar todos os detalhes: as roupas, o cenário, o cheiro, a temperatura, enfim, como se tudo estivesse acontecendo agora.
Certo dia da minha tenra idade, num fim de tarde, minha tia (à época com dez anos) estava comigo no colo quando chegou uma senhora e pediu água. Era uma mulher magrinha, de baixa estatura, pele muito enrugada, mirradinha mesmo; roupas coloridas e um pano amarrado na cabeça (a blusa e o pano da cabeça eram vermelhos e brilhosos e a saia estampada com flores enormes); usava brincos, medalhas, anéis e colares dourados. Era uma cigana. Minha tia, com a inocência da criança que era, colocou-me no colo do meu irmão de três anos, recomendou-lhe que não me deixasse cair e foi buscar a água.
Ao voltar trazendo o copo com água, encontrou meu irmão sozinho. Perguntou por mim e ele respondeu que a velhinha havia me levado. Céus! Que loucura! Minha tia não perdeu tempo, saiu disparada em nosso encalço, parecia uma bala. Conseguiu nos alcançar logo porque a cigana correu justamente por uma rua com uma ladeira enorme. A idade pesou e minha tia ganhou a corrida. Foi tudo tão rápido que a moça que trabalhava em nossa casa nem percebeu o movimento.
Ufa! Por pouco não viro cigana (nada contra os zíngaros). Mas, graças a Deus e à agilidade da minha tia, aqui estou contando o ocorrido e, o que é melhor, no convívio da minha família querida. Contudo, anos após esse episódio, lá pela adolescência, inventei de aprender um pouco sobre quiromancia (a arte de ler as mãos). Por que será? Que coisa!