MEU PRIMEIRO AMOR.

Meu Primeiro Amor.

Guel Brasil.

Passamos praticamente juntos os primeiros momentos de nossas vidas; brincamos no mesmo terreirão ao lado de outras crianças, compartilhamos as mesmas brincadeiras, o mesmo clarão da lua, e não sei por que os nossos olhares sempre estavam se cruzando.

Aos domingos, quando possível, lá íamos nós juntamente com nossos pais fazer louvores a um Deus que nunca conhecemos, nunca tínhamos visto, e que a gente adorava só de ouvir falar. E assim eu vi crescer minha pequena menina de sardas no rosto, de olhos negros e grandes, com um sorriso que lhe escancarava os lábios, cabelos negros à altura dos ombros, parecia uma deusa de Apolo quando a lua tocava-lhe o rosto com seus raios.

Tomamos rumos diferentes na vida, e só voltei a vê-la cinco ou seis anos depois; e a pequena menina tinha se feito mocinha, tão bonita quanto era antes; e outra vez o destino nos colocou na mesma rua, para outra vez cruzarmos nossos olhares nas brincadeiras de ciranda cirandinha, fura-bolo e boca-de-forno, quando sempre lhe roubava um beijo, como pagamento de alguma prenda. Na nossa inocência, começamos a perceber que tudo estava mudando e que nós estávamos nos tornado adultos.

Nossos corações diziam tudo, nossos olhares diziam tudo; e esses foram os momentos mais felizes de nossas vidas; eu não encontrava palavras para expressar os meus sentimentos, mesmo sabendo que ela também me tinha amor, me faltava coragem para declarar o que sentia por ela.

Sem palavras, agente se encontrava todos os dias naquele que seria o nosso cantinho; mas como o tempo não pára, e a vida sempre nos reserva surpresas, um dia ela teve que partir; numa manhã chuvosa da primavera de 1960, ela partiu; na noite anterior à sua partida choveu copiosamente e eu não pude encontrá-la, para pelo menos me despedir. Ela não queria partir e eu tão pouco queria que ela partisse; éramos apenas dois adolescentes, e não tínhamos controle sobre tais decisões.

Quando tomei conhecimento de sua partida meu coração ficou entristecido, e passei a chorar em silêncio todos os dias, quando via que a janela onde ela se debruçava para os nossos encontros estava fechada, e o nosso cantinho vazio. Os domingos já não seriam mais os mesmos, por que não a verei mais na escola Dominical na fila das meninas, com seu sorriso lindo.

Não saia do meu pensamento que eu a tinha perdido, e que talvez nunca mais a veria novamente. Mas o destino é caprichoso, e o mundo deu suas voltas, fazendo com que a gente se encontrasse; num encontro casual e agora adultos, nós nos declaramos um ao outro, e fizemos juras de nunca mais nos separarmos; não foi bem assim, e outra vez o destino nos separou; desta feita fui eu quem parti, e não escrevi uma linha sequer para justificar a minha partida; achei melhor assim, pois sabia que nunca iria fazê-la feliz.

Anos depois quando voltei, já com outros amores em meu coração, soube que ela havia se casado; dois caminhos diferentes, e depois disso nunca mais nos falamos; por muitas outras vezes nossos olhares já se cruzaram pelas estradas da vida, sem palavras, e pra não sangrar as feridas do passado achamos melhor assim; eu vou deixar guardado aqui nesse meu peito ferido suas feições de menina, as imagens da janela que nunca mais vai se abrir pra nós dois, e vou ter sempre em minhas lembranças o nosso cantinho de juras e de amores.

Vivo sempre pedindo a Deus que nos dê vida longa, quem sabe um dia desses a gente se encontra novamente; quero ter a chance de dizer-lhe que apesar de tudo, ainda a amo…

Guel Brasil
Enviado por Guel Brasil em 12/09/2011
Código do texto: T3215634
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