MORTE BONITA!......
Morte Bonita.
Guel Brasil.
Eu me lembro que era mês de agosto, porque tinha se espalhado a noticia de muitos cachorros doido perdidos nos arredores da Fazenda Lajeado. A gente por essas bandas não sabe muito bem as mudanças de tempo; verão, inverno, outono e primavera, é coisa pra estudioso que sabe o que Lê, mas na pratica é danado pra dizer besteira. Aqui nós não temos chuvas no inverno, que é muito quente durante o dia, e frio durante a noite; nessa época por aqui as quadras de lua são bem visíveis, e dá pra gente contar as estrelas dos céus em todos os seus quadrantes.
As noites são escuras quando a lua é minguante ou nova, mas nas noites de lua cheia dá gosto a gente ficar sentado na frente da paiada, apreciando o nascer da lua por detrás do Morro da Balança. E de vez em quando uma estrela cadente risca os céus de ponta a ponta, deixando atrás de si uma chuva de pontinhos luminosos que a gente nunca sabe onde cai. Ai mãe veia dizia: "_faça um pedido! Faça
um pedido!" Não sei pra que, nada do que a gente pedisse iria chegar ali naquele fim de mundo.
Noticia ruim chegava; quer ver só; quando a filha do finado Rochael embuchousse, meu irmão que tava em São Paulo ficou sabendo da noticia primeiro que nós. É, e foi ele que nos escreveu contando a novidade; que quando Rochael, o pai da menina ficou sabendo, não deu nem pra contar os detalhes, morreu ali mesmo; um mal subto fulminan-te. Mãe veia que nesse tempo estava com pouco mais de noventa anos já caducando, e em alguns momentos não falava coisa com coisa, veio a falecer pouco tempo depois desse ocorrido; morte bonita! Se é que existe morte bonita. De manhãzinha, estava sentada na soleira da porta tomando o seu café, e como estava ficou. Mãe que deu fé por causa do barulho da canequinha dela caindo no chão. Era uma manhã como outra qualquer, e eu não me lembro o dia da semana nem o mês do triste ocorrido. Choramos muito a morte de mãe veia; e foi um Deus nos acuda porque meu pai não estava em casa, e alguém tinha que fazer o caixão pra enterrá-la; lá fui eu a galope de cavalo buscar meu pai que nesse tempo estava trabalhando na fazenda do finado Joaquin Dae. Voltamos quase que em cima do rasto; quando chegamos, ela já estava no banco grande da sala vestida com sua mortalha que ela mesmo havia feito. Foi sepultada no outro dia cedinho, ali mesmo no nosso cemitério; por essas bandas é assim: cada família tem o seu!......