Tempo dos Ipês

O mês de agosto se foi... Graças a Deus. Nunca gostei dessa época do ano, quando os dias são tristonhos de feios, quando as paisagens parecem todas mortas, castigadas pelo sol e cobertas pela poeira que pousa no verde sem pedir licença. O chão parece suplicar pelas gotas de chuva que nunca vêm, pois agosto é um mês de sede. O nosso olhar fica comprido quando busca as nuvens no céu e contempla a aridez no horizonte. E é no meio desse clima agonizante da natureza que um milagre acontece. Dos galhos secos das árvores do cerrado, de repente brotam as flores dos ipês. Brancas, roxas e amarelas, um espetáculo da natureza, anunciando a primavera que quase já vem, fascinando os olhos de quem passa pelas estradas. Um aqui, outro acolá, o buquê produzido pelas mãos de Deus é uma beleza indescritível, presente apenas nesta época do ano. Quando a chuva chegar, suas flores irão caindo aos poucos sobre o chão molhado, apagando esta paisagem única de nossos caminhos. O verde vai brotar de novo, outras flores virão, mas nenhuma com a sua majestade. Algo assim como na vida, quando também vivemos tempos assim, de seca, de dor, de angústia, tempos que a gente reza para que passem depressa para que o sorriso nasça novamente em nossa face. O importante é continuar pelo caminho e ter olhos para enxergar as belezas que brotam na aridez do mundo, como a amizade e o amor, que às vezes nos rodeiam e a gente não vê. Assim como os ipês, que nascem como uma bênção da terra e tantos caminheiros não enxergam, pois vão com o olhar fixo no percurso da estrada, fechados no pequeno espaço de seus carros, prisioneiros dos problemas de sua própria vida. Passarão pelo mundo, assim como os ipês sem flores, espalhados pelas matas, completamente anônimos entre as outras árvores. Para pessoas assim, todos os dias do ano tem cheiro de agosto e a primavera talvez nunca chegue, apesar das flores que vão brotando nos caminhos...