NOS CAFUNDÓ

Nos cafundó

AO PASSAR DOS SÉCULOS NO MEU BRASIL!!

Ao cantar do galo convidando-o para a lida de mais um dia de grande labuta, do campeiro lá daquelas bandas das gerais, caboclo sacudido não espera o repicar do seu despertador o rei do terreiro e numa pressa danada abandona o seu ninho dá um beijo na amada vai até o quarto das crianças, faz um afago em cada um , passa rapidamente uma água no rosto e já planejando como deverá ser o seu dia ele prepara o café no fogão a lenha, o coador é de pano o café é o da safra passada trocado que foi com seu compadre por alguns sacos de batata, numa forma inteligente de auto gestão deixando para comprar apenas aquilo que não se pode produzir, ele dá afoitamente algumas goladas no café que são acompanhadas por um bom pedaço de bolo de fubá e um gostoso pão de queijo , coloca na matula duas pamonhas que irá ajudá-lo a enganar o estomago até a hora da bóia que o seu filho mais velho o leva todos os dias na hora que vai pra escola, que fica a beira da estrada de rodagem, aproveita para amolar bem a enxada e o machado pega também a foice passa a mão na espingarda pica pau que já fica carregada, para que na eventualidade de aparecer pelo caminho alguma caça, ou que tenha que se defender de algum bicho mais perigoso acostumados que estão em invadir as invernadas a procura de comida, expulsos que estão sendo do seu habitat natural, pelo avanço incontrolável da especulação imobiliária que não respeita as áreas limítrofes achando que tudo pode se transformar em condomínios ou daqueles pecuaristas gananciosos e desinformados que acham que o ser humano só é movido a suculentos bifes de picanha produzidos por bois que vivem confinados em piquetes cada vez menores, que os impedem de fazer longas caminhadas, no intuito de produzir carnes que possam satisfazer aos paladares mais exigentes e vacas de leite que são forçadas a produzir duas vezes por dia porque no alvorecer do novo dia os latões que são colocados próximo a porteira beirando a estrada possam estar burrifando com aquele ouro branco, que dali segue para os grandes laticínios que por sua vez após o processo de pasteurização alimenta com seus derivados as grandes empresas do ramo alimentício mundo afora temos as serrarias que todos os dias jogam ao chão arvores centenárias que foram palco de encontros marcantes, de juras de amor e de pedidos de casamento e que logo estarão sob as mãos habilidosas de artesãos , marceneiros e carpinteiros que poderiam estar exercendo seus nobres ofícios usando madeira vinda de área de reflorestamento mas que por ganância dos poderosos corruptores aliados a servidores públicos corruptos que ganham seus vultosos salários muitas vezes até sem comparecer à as suas repartições e ainda com a garantia do emprego, dados por uma lei já preparada á beneficia-los e com estabilidade no emprego, são pagos pelo povo para trabalhar para o povo , mas que fazem de seus gabinetes verdadeiros escritórios particulares, onde negociam aquilo que deveriam proteger e vão arrumando burocracias desnecessárias criando dificuldades para poderem vender as facilidades e de um poder judiciário vagaroso e improdutivo, emperrado em centenas de processos que são movidos por recursos intermináveis, que mesmo antes do caso julgado já concede ao réu a liberdade por decurso de prazo, e de hábeas corpus que são assinados de madrugada, mas acho que você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com aquele matuto que pula cedo da cama ao cantar do rei do terreiro, e segue a sua luta campeira trabalhando de sol a sol e debaixo de chuva, sem nenhuma proteção do estado caso venha adoecer se machucar podendo ficar invalido ou até morrer trabalhando de a meia em troca de casa comida e alguns parcos recursos para que possa cuidar de sua família, e lá vem o nosso matuto todos os dias na sua volta pra casa, com a enxada nas costas e cheio de esperanças sabendo que no cumprimento de seus afazeres diários não foram necessários negociatas concorrências fraudulentas notas frias licitações encomendadas, nem produtos falsificados ou contrabandeados e que ao chegar da lida campeira cansado mas realizado por sentir que a colheita deverá ser muito boa, pois que o tempo tem sido o seu fiel aliado, ao chegar na sua palhoça, promete a esposa um vestido novo e pros filhos que vai leva-los a cidade para tomar sorvete no parque de diversões no próximo domingo, depois da missa , lembrando que a tardezinha vai ter quentão pipoca algodão doce e quadrilha e que ele será o noivo junto com sua amada esposa na festa de São João , as crianças pulam de alegria, vendo todo o entusiasmo do papai , que corre vai até o riacho toma um bom banho na cachoeira e volta trazendo dois pequenos peixes que servirá para o jantar, Pede para ver o caderno do filho que lhe entrega um bilhete da professora com carinhosos elogios ao aluno, pega no colo a filha mais nova enquanto a esposa prepara o jantar cantarolando a musica da época em que eram namorados e que o casamento , ainda era apenas uma promessa feita a sombra de um jequitibá , perguntando a ele se se lembrava do dia em que teve que colocar as barbas de molho e ir pedi-la em namoro , são destes brasileiros que falo agora porque sei que eles são cada vez menos , mas que ainda existem e que precisam ser olhados por nós com o mesmo respeito, tal como eles se respeitam entre si e a natureza.

J R
Enviado por J R em 11/09/2011
Reeditado em 11/09/2011
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