As mãos de meu pai

Tenho poucas lembranças de infância sobre meu pai, não gosto de lembrar dele.Mas uma lembrança persiste e se reinventa o tempo todo na minha vida desde sempre.Meu pai tem nome de santo católico, sempre foi inteligente e inventivo,minha mãe diz que herdamos a nossa inteligência dele.

Meu pai até meus oito anos tinha uma oficina que funcionava ao lado de nossa casa, e trabalhava na oficina o dia todo. Nós ficávamos ali olhando bisbilhotando sempre perto dele, eu adorava ficar olhando para ele. Quando dava perto do meio dia minha mãe chamava para o almoço. As mãos dele sempre estavam muito sujas pela natureza do seu trabalho.

Então ele enchia um balde de água, eu sempre junto dele, e pegava um pedaço de sabão em barra esfregava nas mãos e dizia, menina pega uma cuia pra jogar água nas minhas mãos!

Era minha deixa eu saia correndo até e cozinha de dizia:

-Mãe, mãe me dá uma vasilha pra lavar as mãos de painho ! De posse da vasilha vinha feliz e pegava água da vasilha e ia jogando em suas mãos. Suas mãos eram grandes e seus braços tinham cabelo até a altura do pulso ele as ensaboava bem ate ficarem completamente brancas de espuma, eu ficava observando suas mãos ensaboadas e esquecia completamente de jogar água nelas, pai tinha que me lembrar; joga água menina. No final ele sempre agarrava minhas mãos com suas duas mãos de modo que as minhas tão pequenas ficavam completamente escondidas nas deles, eu achava aquilo tão bom, meu pai ser tão grande escondia minhas mãos na dele! Aquilo me deixava feliz.

Eu ainda vejo claramente suas mãos com as minhas escondidas dentro delas. Cresci sempre reparando nas mãos dos homens com quem me relacionei e em algum momento eu me via tentando esconder minhas mãos nas deles. Tentando quem sabe resgatar aquele pai perdido lá no passado. Mas hoje essa lembrança descansa em paz, minhas mãos cresceram, são do tamanho das mãos que ajudo lavar. Mas ainda gostaria de escondê-las nas mãos de quem amo.