Metalinguagem
Quando escrevo, escrevo para mim mesma. Começo a escrever ao sentir um peso estranho, característico, que aponta a necessidade de um tempo para me analisar através de outras perspectivas. À medida que vou redigindo, vou tendo acesso a essas perspectivas. Raramente tenho um texto ou uma estrutura já formulados em minha mente, apenas uma ideia inicial nebulosa que será trabalhada no desdobramento da composição, de maneiras que surpreenderão a mim mesma. Eu escrevo para me surpreender, para acertar os rebuliços internos, esclarecer alguns pontos que apenas com o pensamento não sou capaz de esclarecer. Eu escrevo, às vezes, para ver aonde a minha imaginação chega, além da minha consciência. A escrita me serve ainda de auto-análise, é uma terapia possível em qualquer lugar em que me encontro, no momento em que o incômodo surge. Já utilizei a escrita no intuito de substituir as lágrimas e ser capaz de continuar imutável, mesmo sentindo dor. Já escrevi determinada a aniquilar a dor, e não houve uma vez sequer em que não me sentisse refeita ao pontuar a última frase, prosseguindo extremamente mais leve. É o meu mais eficaz meio de evasão, respirando novos ares, mais líricos, que me auxiliam a lidar com as infâmias da realidade.