De Amoras e de Tranças
Com que graça o laço de fita pousava em minhas tranças... Quando eu meninava os olhos deslumbravam... Essa menina de trança não se parece comigo? Tô com saudades de mim!
(Marilena Soneghet Bergmann)
Acho que a infância é o período da vida onde tudo amanhece mais bonito. É nela que vamos moldar os primeiros sinais de uma vida adulta, que invariavelmente chega para todos. Alguns de nós aproveitamos mais aquele tempo mágico, quando nossos cabelos eram cortados com uma cuia na cabeça para fazer o molde ou os laços de fitas adornavam as tranças.
Eu me lembro que os meus laços de fita eram brancos, cuidadosamente passados a ferro pela Nega, minha fiel escudeira e irmã. Pra que eles ficassem presos, ela dava uns nós com borrachinhas antes. Mesmo assim, logo eles cairiam, pela textura finíssima dos meus cabelos e eu voltava a tê-los soltos e livres, como a minha mente, até hoje.
Eu só fui ter uma trança nos meus cabelos muitos anos depois, daquelas que são embutidas e difíceis de fazer. Ficou tão lindo que fiz questão de fotografar. Porque, quando eu era menina, meus cabelos de palha de milho não seguravam tranças de nenhum modo. Em minutos elas se desfaziam e os fios retos tomavam seu lugar e reinavam sobre a minha cabecinha de menina.
Eu não me importava, pra dizer a verdade, moleca demais que era. Acomodada na nossa vida simples, não tinha grandes sonhos e vivia um dia de cada vez (como hoje, de outro modo) e tudo que eu fazia não eram incluídos roteiros, porque a cada dia eu tinha que inventar algo para me deixar feliz e cada dia era novo!
E como eu era feliz, se era! Não passávamos enormes dificuldades, pois tínhamos pão, café, sopa, polenta, ovos, laranjas e bananas. A minha fruta preferida é banana. Na feira livre de domingo, pertinho aqui de casa, vou comprar bananas do moço que grita um “alô menina” ininterruptamente, para meninas, moças, senhoras e senhores. Hoje cedo, ao ver um programa de televisão que adoro, pois traz o campo para o meu mundo, vi uma plantação de morangos. Linda, verde de folhas e vermelho de frutos. De limpar os olhos e de vontade de estar lá, com um chapéu de palha pra me proteger do sol e regando as folhas lindas dos pés de morango. Acabei de sentir cheiro de mato!
Nossa rua, antes de tornar-se a Rua de Lazer que é nos dias atuais, poderia ter barraquinhas montadas para que o pessoal de minha terra vendesse seus bordados, doces, pães, massas , ao invés de focar a rua em restaurantes apenas. Mesas são espalhadas e ocupadas por uma multidão que ouve música a todo volume e cuja finalidade maior de estar no lugar é provar todos os tipos de vinhos e outras bebidas. Nosso casarão, nesta mesma rua, que antes era aberto o tempo inteiro, tem que ter trancas e um máximo de proteção para nossa mãe, já idosa, mas não sem o temor que todos experimentamos.
Uma das casas que mais eu me recordo com saudade é a primeira da rua, ao lado do Bar Elite, onde os meus conterrâneos se reúnem para a cantoria italiana aos domingos. Dona Maria Pretti era pequenina e muito esperta. Nunca conheci a casa dela por dentro, mas ela me permitia visitar o seu jardim, que tinha margaridinhas, coentro, cebolinha verde, roseiras, amor perfeito e amoras rasteiras. Eu ficava de olho. As danadinhas se escondiam debaixo das folhas verdes, como querendo me enganar. Elas queriam um tempinho para amadurecer, o que eu não permitia, de modo algum. Ficava com medo que alguém passasse lá antes de mim e as levava – umas duas ou três no máximo – verdinhas mesmo. E Dona Maria ria de mim, pela carinha de sapeca feliz que eu fazia.
Hoje me deu saudade da menina de tranças que eu não fui...
Domingo de sol de setembro - Mix de imagens by Google