Feito de Barro

- Pelo andarilho da rua, lá vem ela com lírios em sua cesta e rosas brancas no vestido rodado. Com seu sorriso de luz, onde posso ver o céu florido e em teu seio, se cruza minha única esperança. Minha moça, meu último pedido antes de terminar a canção. Meu último verso antes de apunhalar a tristeza do meu coração. Minha razão e inspiração. Meu ápice, que me faz criar um sonho lindo, onde a síntese de mais um sol se explica em laços no amaranhado de paixão do nosso ninho. Tantas flores criam um só buquê. Buquê são flores vivas, o que me faz pensar em insistir.

Minha linda, meu amor.

Já de tão longe eu posso sentir teu perfume, um aroma de vida e de alegria. Tanta alegria, de uma composição feita do que eu jamais provei ou senti.

E não posso me contentar com tanto, e muito menos aceitar essa beleza esplêndida. Eu tenho medo e, sou inútil. Esse medo sacia minha solidão, o que a cada dia me faz querer terminar. E em meu choro, minhas lágrimas são secas. E naquelas flores do teu vestido, sei que posso me encontrar. Eu me perdi antes de te conhecer, num jardim escuro e lamoso. Eu me afundei, sem pretensão nenhuma de luz. E você é felicidade, é paz. Veio como um anjo, branco e lindo, me oferecendo teu colo, eu pude mostrar meu último sorriso. Linda, você é linda.

E eu sou medo, sou dor, sou feito de barro.

Sou feito de esconderijos, de labirintos.

Minha feição cabisbaixa não me defende de nada, só me priva de amar. E em mais uma taça de vinho, meu sangue é derramado. Eu sou um cálice, eu sou sangue.

E é nessa loucura que eu tenho me limitado. É nessa fumaça que meus passos estão à ponto de cessarem, que meus olhos embaçam, só vêem você descendo por essa rua, e que meu coração… Bom, meu coração é seu e você está cuidando como um de seus doces. Eu já não o tenho e, se o tivesse, estaria em uma gaveta, mofado com meus pensamentos de glória.

E eu não vou para o céu, pois eu não quis amor. Suas flores têm me calado o peito e seu vestido, tem me feito querer viver.

Porque você é vida.

E você não é minha, e nem nunca mais será.

Porque minha depressão está por me matar e minha angústia, vai me crucificar, me fazer pagar por todos os meus erros.

Você é demais pra mim. Você é um andarilho, um lírio, uma rosa branca, um vestido rodado, um buquê, um anjo branco. É felicidade, é paz, é linda, é vida e amor.

Meu amor, me dê um gole de vida.

E eu sou covarde. Sim, eu sou um covarde.

Lucas Mezz
Enviado por Lucas Mezz em 10/09/2011
Reeditado em 10/09/2011
Código do texto: T3211946