Poeta Camilo de Jesus Lima: esquecê-lo? Jamais!
"No Golpe Militar de 1964 muitos intelectuais perderam a liberdade e a própria vida por escrever ou manifestar a sua opinião contraria as idéias retrogradas dos militares. Camilo de Jesus Lima e seus colegas foram presos em Vitória da Conquista, sofrendo as torturas da prisão com os amigos. Camilo, responde ao Presidente Geisel ao ler um cartaz escrito em latim sobre a liberdade. Geisel pergunta; se havia intelectuais ali:” - "General, intelectuais somos todos os que aqui estamos. E intelectuais lutando por uma causa justa".
Camillo de Jesus Lima Filho de Francisco Fagundes de Lima e D. Esther Fagundes da Silva trazia no sangue a estirpe de várias famílias tradicionais da cidade. Camilo nasceu em Caetité, no dia 8 de setembro de 1912 e veio a falecer em Itapetinga, no dia 28 de fevereiro de 1975.
O seu pai, o professor Chico Fagundes, homem integro e de poucas palavras, devotado às leituras e ao magistério, era ateu convicto, e com isso, muito influenciou ao filho, e marcou na cidade por seu jeito distraído e absorto, então, Camillo dedica-lhe um poema em que revela ser ele um gênio incompreendido por não comungar a fé dominante e "ler Shakespeare no original".
Camillo realiza a breve experiência do Colégio de Caetité, do Padre Luis Soares Palmeira (1935-1938), local onde tem a honra de lecionar com o seu pai.
Tempos depois transfere-se para Vitória da Conquista uma vez que a crise provocada pela seca de 1939/40 forçara a mudança do Colégio do Padre Palmeira, onde ensinava, para aquela cidade (motivo aparente, pois na verdade; o que ocorreu foi um convite dos chefes políticos daquela cidade que, assim, visavam proporcionar uma educação de qualidade para seus filhos, como atesta Mozart Tanajura no histórico que fez daquela cidade, emancipada de Caetité em 1840). Ali Camillo produz sólidas amizades, que o acompanhariam por toda a vida, sempre no meio artístico e intelectual, sem perder, contudo, os laços afetivos com a terra natal.
Diálogo Eterno
Por que é que as tuas mãos - as tuas mãos esguias,
Mais alvas do que a névua que anda no ar,
Palidas - tremem tanto assim, tão frias?
- Talvez seja do frio luar...
#Por que é que a tua boca - o rosal que floresce
Para tornar mais dolorosos meus delirios,
Subtamente treme e empalidece?
- É o perfume que vem das pétalas do lírio...
#Por que é que os olhos teus - lagos, mansos, serenos,
Cerram-se como os olhos de quem dorme?
Que é que tem os teus olhos sarracenos?
- Talvez seja o pavor das noites enormes...
#Por que teu coração bate tanto assim, tanto?
Que espectro aterrador transitor por aqui?
- É o amor que chega... bem o sinto... e este quebranto...
Beija-me toda... assim... vem de ti... vem de ti...
O Golpe Militar de 1964 mergulhou o Brasil em triste período de sombras. As primeiras vítimas do movimento foram os cérebros que produziam arte, que viam com sensibilidade o sofrimento de seu povo, e pensavam ser possível um mundo melhor.
Camillo era redator do "O Jornal de Conquista", e morava em Macarani, quando foi preso e levado para a Vitória da Conquista, onde já estavam detidos Pedral Sampaio (prefeito da cidade) e Reginaldo Santos (redator d'O Combate), dentre outros. Eis o resumo deste episódio, sob a descrição de Emiliano José (escritor e jornalista, autor da biografia de Marighella):
Os presos do 19º Batalhão de Caçadores, depois dum habeas corpus da Justiça Militar, foram transferidos secretamente para o Quartel de Amaralina, em Salvador. Ali, incomunicáveis, planejaram uma fuga, suspensa porque souberam da visita do General Ernesto Geisel, que por pressão do chefe da Comissão Geral de Inquéritos iria verificar as condições dos presídios.
Othon Jambeiro sugeriu que se colocasse um cartaz na cela, com os dizeres em italiano: "LASCIATE OGNI SPERANZA VOI CHE ENTRATE", dizeres que Dante Alighieri colocara na porta do Inferno, em sua Divina Comédia, e que significa: deixai toda esperança, vós que entrais. Geisel, chegando, leu e perguntou quem colocara aquilo, e por quê. Jambeiro assumiu e contou-lhe a situação vivida ali. Surpreendendo os presos que não o sabiam culto, o severo militar perguntou: "Isso não é de Dante Alighieri?" e comentou: "Vejo que há algum intelectual aqui."
Foi então que o poeta Camillo de Jesus Lima adiantou-se e, sereno e firme, respondeu - "General, intelectuais somos todos os que aqui estamos. E intelectuais lutando por uma causa justa".
Libertado, lança em 1973 O Livro de Miriam, dedicado a sua esposa, obra que, neste mesmo ano, em visita a sua Caetité natal, doa à Biblioteca Pública. Lá revê amigos, vive um pouco daquilo que todos os visitantes e filhos da terra moradores doutras paragens experimentam: a amizade, a alegria do reencontro… mas foi uma despedida.
De 1964 até sua morte, em 1975, Camillo jamais deve ter se reabilitado. Foi justamente naquele ano, quando o Brasil havia mergulhado no período mais negro da ditadura, com Geisel na Presidência, que as perseguições se acentuam. Morrem misteriosa e acidentalmente Anísio Teixeira, Juscelino Kubitschek, João Goulart… morre, misteriosamente atropelado em Itapetinga, o poeta Camillo de Jesus Lima
Diálogo Eterno
Por que é que as tuas mãos - as tuas mãos esguias,
Mais alvas do que a névua que anda no ar,
Palidas - tremem tanto assim, tão frias?
- Talvez seja do frio luar...
#Por que é que a tua boca - o rosal que floresce
Para tornar mais dolorosos meus delirios,
Subtamente treme e empalidece?
- É o perfume que vem das pétalas do lírio...
#Por que é que os olhos teus - lagos, mansos, serenos,
Cerram-se como os olhos de quem dorme?
Que é que tem os teus olhos sarracenos?
- Talvez seja o pavor das noites enormes...
#Por que teu coração bate tanto assim, tanto?
Que espectro aterrador transitor por aqui?
- É o amor que chega... bem o sinto... e este quebranto...
Beija-me toda... assim... vem de ti... vem de ti...
http://poetacamillo.blogspot.com/
LEITE, José. Camillo de Jesus Lima. Cooperação, Itabuna, novembro de 1945.
LIMA, Camillo de Jesus. Visão da Humanidade Nova. A Época, em 10. 11.1942.