11 de setembro

Foi sem dúvida um dia terrível, o 11 de setembro de 2001. Isso porque naquele dia, ainda pela manhã, eu tive uma discussão com a minha mãe. Não me lembro do que discutimos. Sei apenas que foi sério o bastante para que deixássemos de conversar e que eu saísse de casa sem ter me despedido. Saímos eu e o meu violão. Era terça-feira e eu tinha aula de música. De vez em quando eu tinha umas ideias meio estranhas, como essa de aprender violão. Na verdade, estava na moda. Meus melhores amigos na oitava série estavam todos aprendendo. Foi um tempo em que estávamos descobrindo as bandas de rock. Lembro-me de ter usado uma camiseta do Kurt Cobain – emprestada – e caminhar com orgulho, feliz por exibir a figura de um personagem que, como eu, sofria.

Havia, no entanto, uma diferença significativa entre o que eu ouvia e aquilo que eu conseguia aprender nas aulas de violão. É bem verdade que eu já sabia tocar o manjado solo de introdução de Come as you are – e até hoje, se eu pegar um violão, é muito provável que seja a primeira coisa que eu tente tocar nele. Nas aulas, no entanto, eu aprendia Leandro e Leonardo, Zezé di Camargo e Luciano e, pasmem, KLB. Mas a maior parte do tempo, eu passava tentando aprender escalas, o que não me animava muito.

E foi para uma aula dessas que eu fui naquele dia. A aula começava às 10h e eu saia de casa meia hora antes, já que ia a pé. Antes de sair, ainda dei uma ligeira treinada na escala da semana – e a televisão do meu quarto permaneceu desligada. Depois de uma hora de aula, voltei para casa e fui almoçar. Lembro então de ter ouvido alguma coisa no rádio sobre uns aviões terem atingido algum prédio por aí, mas não me interessei pela notícia e fui para o meu quarto me arrumar para a escola.

Quando cheguei lá, ouvi algumas pessoas comentando sobre esse mesmo acidente que ouvi no rádio, o que me levou a crer que a coisa talvez fosse mais importante. E, aos poucos, as informações foram se somando, e logo eu tive certeza que uma coisa muito grande havia acontecido enquanto eu me preparava para a aula de música – e não foi a discussão com a minha mãe. Ao final das aulas, eu já estava ciente de praticamente tudo. Voltei para casa e liguei a televisão, já excitado com o acontecimento. Não estava conversando direito ainda com a minha mãe, então esperei meu pai chegar. Só agora me ocorreu que, no horário do almoço, ele também não sabia de nada. Ao vê-lo, meus olhos brilharam: “E aí, viu o começo da Terceira Guerra Mundial?”. Falei no tom meio irônico que me é habitual, mas não duvidando que fosse verdade. Sim, ele havia visto.

Lembro vagamente que, naquela noite, também aconteceu algo de inesperado no nosso condomínio. Se não me engano, eu estava tomando banho e de repente acabou a luz. Logo vimos que era em todo o prédio. Felizmente, não foi por causa de avião nenhum, e pouco depois o problema foi resolvido. E também resolveu-se o problema com a minha mãe, terminando o período de terror lá em casa – mas não nas aulas de música. Eu ainda aterrorizei muita gente até o final daquele ano, quando enfim pendurei o violão.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 09/09/2011
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