Parem este trem
Não, eu não sou daltônico. Eu sei que o mundo é preto e branco, mas eu tento manter minha mente aberta, pois não consigo dormir esta noite. Desejo tanto parar este trem de alta velocidade, para que, de uma vez, eu possa sair e voltar para meu lar. É inimaginavel ter que suportar a velocidade de tal objeto que, ao se encontrar com o vento, atropela tudo que está no caminho, até o tempo. Tenho que ser franco, eu sei que não consigo, porém, será que, um dia, alguém por aqui não poderá puxar os freios deste trem?
Não sou bom com as palavras, quero dizer, não consigo encontrar formas mais convenientes ( ou convincentes) para conversar com alguém, o que é uma pena pois não tenho preparo suficiente para suportar ver meus pais partirem. Uma geração se vai deixando muita saudade para que, em seguida, eu encontre os trilhos no intuito de passa-los por conta própria. Será que consigo? Será que dói? Cada SENTÍmetro é mais uma pergunta existencial de todos. Padres, professores, policiais, escravos, pobres; toda a sorte de pessoa está junto comigo nesta viagem. Olho para a janela: "Como o ambiente passa correndo contra mim!". Várias cores se desmancham. O trilho não é uma linha, não tem aparência retilinea. É preciso haver escolhas para esta viagem, nada é determinado pelo maquinista e sim pelos nossos corações. É assustador! Muitos com tanto medo de envelhecer, dizem: "Eu sou bom somente sendo jovem".
Eu brinco com o jogo dos números, dou um jeito por aqui, dou um jeito por alí. Todo mundo é assim, tudo é um faz de conta onde a conta dá conta de descobrir uma forma de dizer que a vida apenas está amanhecendo em um momento em que apenas estrelas-cadentes são os únicos prodígios de consolo. Um dia tive uma conversa com o meu velho em casa pois minha dúvida fluía na cabeça mais do que meu sangue nas artérias, eu disse: "Por favor, me ajude a entender isso?". E ele disse: "Filho, esta pergunta não se responde com palavras, apenas chegue aos sessenta e oito anos".
Ainda é uma incógnita para mim saber essa questão: "Parar este trem?". Mas não importa, percebí que, pelo menos, não há necessidade de pará-lo agora. De vez em quando, eu acho que vou sentir como deveria sentir, e que todos estão ao meu redor ainda, enfim, estou são e salvo nesta viagem sem destino. Aprendí que não há o que perder mesmo que você chore conforme passa nas cortinas da escuridão.
Que este trem não pare nunca e que em nenhum minuto ele mude para outra rota. Não pense que eu entendí esta metáfora, ainda estou tentando descobrir. Entretanto, uma coisa eu sei: "Honestamente, nunca iremos parar este trem".