Calma e cama
Dia corrido. Todo dia é assim.
Meus cabelos estão feios, minha pele cansada... preciso de retoques.
Quando eu saio do banho é a hora que eu mais percebo.
Percebo pela nova dificuldade em me alongar até a toalha sem tirar os pés do chuveiro para não molhar o chão.
Pior: percebo quando tenho que secar além de cabeça, tronco e membros, o espaço que fica entre minhas coxas e minha bunda. Antes, ali não se acumulava água alguma. Agora, com a força irrevogável da gravidade, a bunda caiu e criou um reservatório de água (ou areia, ou suor).
Fico tentando encontrar qual o dia em que a bunda caiu. Um dia ela estava lá, em pé. Do nada caiu e não lembro quando.
É a chegada do fim de ano que faz isso. Me faz rever minha vida, como quem cuidadosamente revisa um texto antes de publicá-lo. Será que tudo isso faz sentido? O que há nas entrelinhas? Ah... as entrelinhas!
Ali tem escondida toda a poeira que eu varro diariamente do meu corpo. A poeira e a água que se acumula da bunda caída, não posso esquecer!
Nas entrelinhas tem a vontade de mandar tudo pro inferno. Isso mesmo.
As entrelinhas e suas poeiras são uma delícia. Ruim, só a água que implica e insiste em ficar ali depois do banho.
É a idade...
Na verdade, é a falta de academia, alimentação regulada, disciplina, uma porrada de coisa. Mas é a idade também.
Aí eu penso: cacete, o ano já está acabando. Hum... idade avançando... sonhos inacabados.
E mais águas que passarão a se acumular em cada vez mais diferentes lugares: na barriga, no pescoço – socorro!
Chega de pensar nisso.
O que eu preciso agora é de calma e cama.