VONTADES
...Sabe?
...Às vezes eu sinto vontade de pegar a vara de anzol para ir pescar no riozinho que me viu criança e que desde muito, muito tempo antes de mim, limita os quintais urbanos. Mas, como pescar? se já não existem lambaris, nem carás, bagres, traíras; nem mesmo barrigudinhos coloridos para enfeitar aquários feitos de vidros de azeitonas?!... Nem sapos, nem pererecas... - se bem que, numa noite dessas, ouvi gargarejos e marteladas quando atravessava a ponte... (sei lá! Talvez tenha sido ilusão, "miragem auditiva")...
Minhocas, tanajuras, são iscas raras... e o riozinho - coitado! - já não consegue abrigar e esconder no fundo do leito a sereia de cabelos longos, protetora dos peixinhos, que enrolava as madeixas nas pequenas fisgas embaraçando-as, engastalhando-as, fazendo com que a fina, leve e frágil varinha de ubá (acostumada a vergar-se ao peso e tremeliques dos pescados) partisse com os esforços da linha encerada obediente aos safanões do pescador.
...(Pobre riozinho, doente, magro, esquelético como tuberculoso do tempo antigo, que vem pelejando para não morrer de sede... - até quando, não sei).
(...)
Às vezes sinto vontade de vestir o uniforme de ginástica (todo branco: calção curto, camiseta sem mangas, tênis de pano encorpado e sola fina emborrachada) e sair correndo para não chegar atrasado. Mas, como? se já não existem a fábrica e o apito das cinco e meia da manhã, o campo de futebol com grama molhada pelo sereno da noite e os bandos de micos olhando dos altos das árvores a correria de garotos ao redor do bosque?!
(...)
Às vezes sinto vontade de viajar: arrumar as malas, pegar o trem, arriscar os olhos às fagulhas, comer bolinho de arroz na estação ao pé da serra, correr velozmente na baixada onde os capins que margeiam os trilhos esvoaçam feito cabeleira de mulher formosa... e depois chegar à casa dos meus avós. Mas, como? se já não existem os meus avós, os trilhos, o trem, as estações, muito menos o bolinho e as touceiras de capim?!
(...)
Às vezes sinto vontade de pegar o acordeon e entrar pela noite, fazendo serenata. Mas, como? se já não existem os antigos postes de ferro e as lâmpadas incandescentes preguiçosas iluminando ruas que eram, então, descalças; se já não existem as canções, valsas, boleros; já não existem alguns amigos da juventude; já não existem românticos que apreciem a Lua e as estrelas?!
(...)
..........................................................................................
Dizem que vontade é coisa que dá e passa. Mas, saudade, não. Saudade não passa!
...Outro dia percebi que nos meus olhos ainda existem lágrimas, e...
...sabe?
...às vezes sinto vontade de chorar!
---<<)){o}((>>---
Set,08.2011
Minhocas, tanajuras, são iscas raras... e o riozinho - coitado! - já não consegue abrigar e esconder no fundo do leito a sereia de cabelos longos, protetora dos peixinhos, que enrolava as madeixas nas pequenas fisgas embaraçando-as, engastalhando-as, fazendo com que a fina, leve e frágil varinha de ubá (acostumada a vergar-se ao peso e tremeliques dos pescados) partisse com os esforços da linha encerada obediente aos safanões do pescador.
...(Pobre riozinho, doente, magro, esquelético como tuberculoso do tempo antigo, que vem pelejando para não morrer de sede... - até quando, não sei).
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Às vezes sinto vontade de vestir o uniforme de ginástica (todo branco: calção curto, camiseta sem mangas, tênis de pano encorpado e sola fina emborrachada) e sair correndo para não chegar atrasado. Mas, como? se já não existem a fábrica e o apito das cinco e meia da manhã, o campo de futebol com grama molhada pelo sereno da noite e os bandos de micos olhando dos altos das árvores a correria de garotos ao redor do bosque?!
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Às vezes sinto vontade de viajar: arrumar as malas, pegar o trem, arriscar os olhos às fagulhas, comer bolinho de arroz na estação ao pé da serra, correr velozmente na baixada onde os capins que margeiam os trilhos esvoaçam feito cabeleira de mulher formosa... e depois chegar à casa dos meus avós. Mas, como? se já não existem os meus avós, os trilhos, o trem, as estações, muito menos o bolinho e as touceiras de capim?!
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Às vezes sinto vontade de pegar o acordeon e entrar pela noite, fazendo serenata. Mas, como? se já não existem os antigos postes de ferro e as lâmpadas incandescentes preguiçosas iluminando ruas que eram, então, descalças; se já não existem as canções, valsas, boleros; já não existem alguns amigos da juventude; já não existem românticos que apreciem a Lua e as estrelas?!
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Dizem que vontade é coisa que dá e passa. Mas, saudade, não. Saudade não passa!
...Outro dia percebi que nos meus olhos ainda existem lágrimas, e...
...sabe?
...às vezes sinto vontade de chorar!
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Set,08.2011