A luz que há em ti

Sou bastante simpático à energia elétrica, e afeiçoei-me a ela de tal maneira que hoje consigo perceber rapidamente quando estou em algum lugar que não a possui. Na semana passada, um desses lugares foi o Pátio Brasil. Mal eu coloquei os pés dentro dele e logo percebi que não havia luz por lá. Como sou de natureza bastante curiosa, aproveitei a situação para caminhar pelo shopping – coisa que dificilmente faço quando ele está iluminado. Percebi que as pessoas continuavam fazendo as coisas de sempre, só que no escuro. Quem estava caminhando, continuava caminhando distraído, mas agora com uma justificativa legítima para as trombadas. Quem estava dentro das lojas, parece ter ficado por lá mesmo. E a única alteração significativa que percebi foi a presença estratégica de atendentes na entrada das lojas – certamente pra impedir os roubos fortuitos.

Agitação bem maior eu encontrei no elevador do prédio em que trabalho. Da meia dúzia de elevadores que há por lá, apenas um se dignava a funcionar, tirando forças Deus sabe de onde. Apesar disso, o único que confiava nele era um dos seguranças do prédio, que não hesitava em nos recomendar o dito elevador, garantindo que, a menos que ele estragasse, continuaria funcionando. Entrei nele com várias pessoas, e metade havia mudado de ideia assim que a porta fechou. Por fim, nada aconteceu e eu pude voltar ao meu trabalho – e não trabalhar, apenas ficar contemplando a tela escura do computador.

Quem teve prejuízos mesmo foram os restaurantes, já que o apagão aconteceu justamente no horário do almoço. Os jornais mostraram proprietários indignados, falando que nunca havia acontecido coisa parecida em Brasília – isto é, pelo menos na hora do almoço. Houve até casos de gente que foi obrigado a confiar no cliente e aceitar fiado. Foi assim por quase uma hora, até que a energia voltou a ser restabelecida. A queda atingiu toda a região central de Brasília – o que nos leva a acreditar que realmente não foi possível resolver o problema em tempo menor. E a causa foi a mesma de sempre, alguém que atingiu um poste, ou alguém que fez alguma besteira na estação elétrica.

Fato é que, mal foi resolvido, e os brasilienses sequer lembravam que haviam tido um problema. Voltaram a viver as suas grandes vidas iluminadas.

Apenas cuidai, Brasília, para que a luz que há em ti não seja trevas.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 08/09/2011
Reeditado em 08/09/2011
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