COMO SE BROTASSEM ESTRELAS

Não dou atenção às palavras fluindo, não me atenho a elas porque simplesmente as vou deixando surgir como se brotassem estrelas brilhantes à minha frente. Escrevo até mesmo com os olhos fechados, viajando no meu pensamento, voando nas asas carinhosas da intuição. Não almejo objetivos, não pretendo seguir a coerência, guio-me somente pelo desejo ardente de semear vocábulos que dançam trocando de par a todo momento em meio às músicas tocando sem intervalo, pares que se entrelaçam sem qualquer compromisso, desprovidos de rotas e direções.

Não é emblemático sonho qualquer resquício de versos tornados poesia, a espalhar-se com a mesma e paulatina intensidade das brisas varrendo as calçadas e revolvendo os lindos cabelos femininos? Por isso nele, através dessas quimeras poéticas, se enquadra toda fantasia, é possível imiscuírem-se misteriosas magias, universos factíveis apenas no lirismo dos corações dos poetas. O próprio sorriso fluindo de um belo rosto de mulher é capaz de transformar o mais bruto coração num cordeiro recém-nascido, na quietude e meiguice de uma criança desamparada de carinho.

Minha cama é um doce ninho de poemas com dorsel confeccionado de muitos vocábulos, travesseiros de plumas oriundas de pavões encantados, lençóis de tecido mágico com mais de mil e quatrocentos fios que são colhidos de plantações semeadas em Passárgada. Tudo isso faz do meu leito um lugar para o perfeito e mais tranquilo repouso do artesão das palavras, aquele oleiro em cujas mãos o barro se transforma nas mais puras e belas obras de arte jamais vistas por olhos humanos.

Tenho por mim que a humanidade deveria ser algo assim dessas incomensuráveis espécies de corrente de fraternidade e amor, desses anseios e anelos constantes de paz, quiçá um grande clamor a almejar absolutas certezas de harmonia interminável. Comigo permanecem as palavras formando tais desejos, agrupando grandes sonhos não de todo impossíveis, não de todo quiméricos, nada fugidios. Porque se somos as únicas criaturas vivas conhecedoras do mais sublime sentimento, traduzido numa encantadora palavra de não mais que quatro letras chamada "amor", temos que corar de vergonha por não fazermos dele o nosso mais puro Norte.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 08/09/2011
Reeditado em 09/09/2011
Código do texto: T3206992
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