REALIDADE X UTOPIA (tratando-se do ensino de línguas estrangeiras no contexto educacional regular).
Tudo começou na primeira aula da disciplina de estágio V, do curso de licenciatura em Letras, habilitação Inglesa. Quando a turma levantou uma discussão a cerca da possibilidade de ser possível ou não utilizar/estimular o uso das quatro habilidades de uma língua estrangeira, em nosso caso a língua inglesa, em uma escola regular do ensino público.
Depois dessa aula passei o resto do dia refletindo sobre esse assunto, o que resultou nesse texto reflexivo que agora vou lhes relatar...
Estudei em escolas de ensino regular publicas tanto daqui (João Pessoa) quanto do Rio de Janeiro (minha cidade natal) e por isso, sei bem o contexto de ambas as realidades. Vivi e enfrentei a realidade de se querer e de tentar aprender uma língua estrangeira em um contexto social pouco favorável (pois para muitos ainda as línguas estrangeiras são destinadas apenas para aqueles que possuem uma boa condição financeira). Já perceberam o custo de uma mensalidade desses cursos livres? Vocês acham que alguém que ganha apenas um salário mínimo para sobreviver tem condições de por os seus filhos nessas escolas? Já estudei também com muitos professores capacitados (grande maioria que ensinavam nessas mesmas escolas de idiomas) e que haviam inclusive morado fora, em países que possuem como primeira língua a língua Inglesa e mesmo assim não se interessavam em dar uma boa aula pelo simples fato que “o ensino de língua estrangeira nas escolas públicas não funciona!”, esse é sempre o mesmo discurso mesquinho que vemos ouvindo do ensino fundamental ao ensino médio e por fim nos cursos de licenciatura em Letras nas universidades.
Lembro de há alguns anos atrás ter conhecido alguns estrangeiros (grande parte deles americanos) que possuíam uma certa fluência em outras línguas como é o caso do espanhol e do alemão (que são mais comumente ensinados nos E.U.A. e em outros países nas escolas) e quando perguntava onde eles haviam aprendido aquelas línguas estrangeiras tão bem, eles respondiam “na escola!”. Como assim? Já perceberam que em outros países os estudantes aprendem outras línguas nas escolas regulares e porque aqui isso não acontece? Tá bom, já sei o que vocês irão dizer... É porque a carga horária do ensino de línguas é reduzida... É porque nas escolas não há estrutura suficiente... É porque os professores são desvalorizados... é porque os alunos não tem interesse em aprender uma língua estrangeira... e bla, bla,bla, por favor eu já ouvi tudo isso e sinceramente já estou cansada de ouvir tudo isso toda vez que recomeçam uma discussão sobre a questão do ensino de línguas estrangeiras nas escolas regulares. Creio que temos que mudar um pouco esse discurso de CD arranhado e temos que agir! Falar e fácil, quero ver na realidade, você é muito sonhadora! Aposto que vocês pensaram nisso enquanto liam o meu relato, eu sei, aliar a teoria à prática sempre foi um sonho muito antigo da humanidade e até hoje é uma das coisas mais difíceis de se fazer e só voltando a parte da “sonhadora” eu apenas tenho uma coisa a dizer, uma vez Shakespeare disse em uma de suas peças “Nós somos feitos da mesma matéria que os sonhos” e desde a primeira vez que vi essa frase tomei-a para a minha vida e sempre que as coisas parecem difíceis demais e até em certo ponto “impossíveis” de se realizarem eu penso nessa frase e isso me dá forças para continuar e lutar pelos meus sonhos, porque eu sou feita da mesma matéria que eles são feitos.
Mais voltando agora para o contexto escolar...
Então esses professores que ao mesmo tempo em que trabalhavam em escolas regulares e nas escolas de idiomas eram perguntados sobre algo do conteúdo que estavam ensinando por algum aluno da escola regular eles nem prestavam atenção, “não estavam nem aí” como se diz por aí e cada vez mais iam matando e até certa forma “destruindo” o interesse daqueles alunos que ainda queriam aprender alguma coisa, porque ao contrário do que dizem “há mais alunos querendo aprender do que professores querendo ensinar”, o que é uma pena, pois ambos poderiam crescer mutuamente o que geralmente não acontece. Lembro me também de um outro episódio que aconteceu no ensino fundamental na 6ª série que foi quando uma colega de classe perguntou para a professora: - Professora! Como eu posso aprender inglês? E nada de resposta. – Professora o que significa N’Sync? (esse era o nome de mais uma dessas bandinhas Americanas do momento na época). E novamente nada de resposta. E a aluna continuou – Professora! Me ajuda a traduzir essa música! E aí a professora saiu da sala e continuou a não dizer nada. Vocês acham que essa aluna não tinha interesse em aprender uma outra língua? Agora me digam de quem era o desinteresse da aluna em aprender ou da professora em ensinar? E agora apenas para dizer a vocês essa aluna continuou a estudar sozinha em casa a língua Inglesa com apenas os únicos materiais que ela possuía: alguns CDs do grupo preferido dela em língua Inglesa, uma revista dessas que se compra em qualquer esquina com as letras dessas músicas que ela possuía e por fim o seu mais fiel companheiro e “professor” o dicionário, um dicionário velho e desatualizado no qual ela possuía deste a 5ª série e que hoje 10 anos depois a ajudou a entrar no curso que ela tanto queria, o curso em Letras- Inglês. Me senti extremamente grata ao vê-la como “fera” (caloura) no período passado aqui na instituição que estudo.
Portanto, concluo que muitas vezes não conseguimos ver com os olhos que vão muito além do “clichê”, porque achamos que não há mais nada a fazer e que tudo já está perdido, o que nem sempre é verdade, principalmente se tratando de seres humanos e o principal da educação de um país que tem tudo para estar no mesmo patamar dos países desenvolvidos, pois temos tudo para progredir, apenas basta acreditarmos nisso.