Deitada eternamente em berço esplêndido...
7 de Setembro. Esse dia me traz algumas lembranças.
Vejo os desfiles que fazia quando era um garoto magricelo e dentuço.
Como odiava aquilo tudo! O calor, a repetição... Só o fato de ser obrigatório já me enchia o saco.
Alguns até se orgulhavam de carregar a bandeira ou desfilar na frente. Eu não. Não queria nem estar ali.
Hoje vejo que os desfiles não mudaram muito. Quando olho para as crianças desfilando dá para perceber que a maioria queria estar em outro lugar fazendo outra coisa, qualquer coisa menos desfilando no 7 de Setembro.
Eu cresci. Compreendi o que é realmente pertencer a um país. Respeito a bandeira, mas sei que sou um dos poucos. Brasileiro só se torna patriota de quatro em quatro anos com a Copa do Mundo.
No entanto, ultimamente os jogos da Seleção nos envergonham mais ainda. Os jogos e tudo. A corrupção, a violência, o preconceito, tudo isso. Não sei como nossa bandeira continua a flamular depois de tantas vergonhas. No lugar dela eu me encolheria e esperaria o tempo passar, mas ela é teimosa. Não fosse seu amigo vento estaria perdida.
Dizendo isso tudo posso passar a impressão de que sou um Policarpo Quaresma, mas sou apenas um cara contente por ter nascido aqui. A gente tem uma ligação com nossa terra, é algo meio inexplicável. Num primeiro momento nem ligamos, mas depois ela passa a ser, assim, um de nossos portos afetivos. É o que sinto pelo Brasil.
Vendo isso tudo acontecer me envergonho. Me envergonho muito mais pela nossa reação passiva do que pelos problemas propriamente ditos. Um jornalista espanhol disse há um tempo: "Que país é esse que consegue mobilizar milhões em passeatas á favor da maconha e não consegue resolver o problema da corrupção?" Não só da corrupção, como também da educação. Falta essa visão de todo, de que todos os problemas estão ligados, e essa mobilização.
Quem sabe um dia conseguiremos sacudir a poeira e dar a volta por cima. Até lá o 7 de Setembro continuará a me trazer amargas lembranças e alguns desgostos.