Bom baiano, Bahia boa...

Uma boa água de coco acompanha a pinga do copo, as sandálias arrastam junto com a festa do pôr do sol, os ventos sopram a cabeleira cacheada, trazendo a harmonia e levando embora o desalento. A água límpida reluz a luz do sol que barra nos óculos escuros da gente desta terra. Lá, longe, se ouve o som da cachoeira, o cantar dos pássaros, as piadas, os risos e as histórias de trancoso. Junto com todos os ritmos lançados em volta, numa grande orquestra que só encontra sua explicação e natureza quando se tem em vista que se pisa em solo baiano.

O clima harmonioso e alegre, não se sabe pra qual lado se pende mais. Uma roda de capoeira, o som do berimbau, os violões começam a tocar em volta das fogueiras que começam a ser acesas à beira do São Francisco. Alguns jovens entoam Raul, outros um som de Heavy Metal muito bem tocado. As gargalhadas soam alto, a polícia procura em quem bater, as putas começam a ocupar seus postos de trabalho, algumas menores no aprendizado da profissão.

Os romances acontecem à luz da lua em suas orgias tão normais, tão abençoada pelos Deuses. As garotas logo cedo estreiam suas sexualidades, desfrutam dos prazeres da vida, dão lição às donas de casa e aprendem feitiços para prender os maridos. Enfeitiçam com os olhares, com as chaves de perna, com suas contrações íntimas, com os olhares pesados, com sua fala cantada. Um dengo de mulher irresistível, que ainda prepara um bom pirão de cabeça de galo pra quando seu homem chega cansado da gafieira. E, quando isso não é o bastante, ainda tem os feitiços que se faz nas encruzilhadas, nas matas, nas beiras dos rios... Mas seus homens são seus, sob ameaça de briga de peixeira e magia a quem quiser disputar.

Alguns casais homo afetivos criam mais coragem para dar as mãos, outros já se enrolam na areia. Surgem as barracas de acarajé... Plena terça feira. Dia de trabalho? Hahá... Isso é a Bahia meu irmão, e na Bahia trabalho é diversão! Baiano não dorme, se prepara para a festa! E como festeja... Prova cada dose da boa cachaça, da boa tequila, do bom conhaque. Pra forrar o estômago, um bom caldo de mocotó, ovo de codorna, amendoim e camarão. E dançam, dançam e dançam até todas as juntas do corpo desprenderem por si sós.

Quando o dia amanhece, vão para as suas casas, tomar banho e uma boa dose de café para trabalhar... Não reclamam do cansaço, o desfrutam, aproveitando a leveza do corpo em seu gingado pra não cair.

Essa é a Bahia de todos os dias, dos dias santos e dos demônios, seja carnaval ou semana santa, seja do Candomblé ou da fé cristã. É a Bahia de quem tem coragem, dos fracos ou dos fortes, dos valentes e dos temerosos. Essa, é a Bahia de quem quer viver...

Graciliano Tolentino
Enviado por Graciliano Tolentino em 06/09/2011
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