A última bobagem de um iniciante
O tempo passava e meu primo nada de "desencalhar". Já quase 18 anos e nenhuma aproximação às mulheres. Nós, os primos mais velhos, estávamos preocupados com a situação. "Será que ele não gosta?..." "Que nada! Apenas não descobriu e por isso não pegou gosto". "...mas se for a vontade dele, temos que respeitar... (risos)" ... "É! Nós precisamos dar uma ajudazinha".
Logo descobrimos que não bastava ajudazinha. Atirávamos as meninas no seu colo e quando virávamos as costas ele as deixava e nos seguia. E assim a coisa ia piorando. "Já sei! Vamos levar ele no puteiro", sugeriu alguém numa noite de sábado. "Não! Pode ser muito traumatizante para ele." "Que tal entao numa casa de strip?" Resolvido! O momento aquele, não podia ficar pra depois. Muito temeroso dificultou bastante nossa ação. Quase levou tudo a perder pelo simples fato de não querer ir conosco, desconfiando de alguma aprontação para com ele...
Cerveja aqui, Whisky ali, Campari acolá, a noite ia se passando sob o som das envolventes músicas e das provocantes danças das garotas se despindo. Tudo ia a mil maravilhas até que inventaram de dançar entre as mesas para melhor mostrar os "produtos", como é cumum nessas casas. Alguém se agradasse de alguma garota, por um pequeno acréscimo na taxa a teria exclusivamente em sua própria mesa.
Numa noite de gentilezas, oferecer um presente desses para nosso primo parecia a ordem natural das coisas. E foi. Animado nosso primo logo escolheu uma bela paraguaia olhos esverdeados.
Cachê pago, bebidas reabastecidas, "Je taime moi non plus" na agulha e meu primo de olhos arregalados esperando o prêmio. O palco se iluminou e as cortinas se abriram.
Esvoaçantes véus e outras vestes de pura seda transpareciam a formosura do lindo corpo da jovem dançarina, que parecia fluir nas exóticas e melodiosas notas musicais. De repente como se dançasse um tango, volta-se em nossa direção e com o mais sedutor dos andares, sai abandonando peças de suas já escassas vestes pelo caminho que se abria ao seu passar. A musica, a unica erótica permitida àquela época, parecia se intimidar com a beleza e charme da nossa eleita. Meu primo já não piscava os olhos e nem fechava a boca. Visivelmente perturbado começou a se desesperar como se perguntasse "Será que ela vem aqui mesmo?" E, é claro, ela foi. Mas que isso. A perfeita sincronia com a música e a distância foi coroada pela sua chegada totalmente nua, como uma deusa indígena de linhas perfeitas ao som da útima nota da não menos bela música.
Como que adivinhando ser nosso primo o estreiante (talves até por ser o caçula da turma) escolheu a ele para interagir. Quando num relance jogou os ombros para trás e projetou seu ventre para frente, quase tocanto o rosto de nosso primo, aí a coisa desandou. Nosso primo ainda tentou buscar ajuda nos nossos olhares.
Mas confesso. Fomos sacanas com ele e nada dissemos. Nada fizemos para que o inusitado não acontecesse. Consultou a todos com seu sôfrego olhar e não recebendo qualquer guarida, ou melhor não recebendo qualquer reprovação, atendeu aos seus impulsos mais puros, mais primitivos. Estendeu a mão, e em concha e com muita suavidade cobriu toda a "vergonha" da dançarina. Ainda com a mesma suavidade foi lentamente erguendo a mão na direção do alto-ventre da moça e até experimentou fechar os olhos num visível êxtase.
Essa eternidade toda não durou mais que cinco segundos. Os olhos de meu primo mal se fecharam em seu deleite e foram brutalmente abertos no segundo seguinte pelo peso de uma mão que delicada só tinha aparências, pois no peso, pelo barulho produzido, parecia de lutador de arte marcial. O som ambiente também conspirou, pois naquele instante silenciou-se a zero, fazendo o som do impacto dar-lhe proporções ainda maiores e atraindo todos os olhares da lotada casa à nossa mesa.
O último a entender o que acontecera foi ele, nosso primo iniciante. Há boatos que que até hoje, quase trinta anos passados ainda não tenha entendido direito o que aconteceu naquele momento. Mas lá naquele instante ousou ainda olhar para os lados por uma vez só, antes de baixar a cabeça e se recolher a sua própria inexpressividade.
De imediato o gerente (ou sei lá o quê) estava na nossa mesa pedindo calma e desculpas. Da mesma forma agimos, esclarecendo que meu primo era de paz, que sequer gostava de briga e que tudo não passara de um momento de insensatez e euforia de iniciante.
O show, é claro, acabou alí. Pelo menos para nós, que não reuníamos condições de permanecer, no local, ainda que "convidados de honra" conforme anunciou o tal gerente a nossa mudança de status, a partir de então, em compensação pelo desarranjo.
Com um sorriso meio inocente e, com muita sutileza já sendo conduzido por nós para a parte da casa mais adequada ao nosso grupo, o lado de fóra, meio que gagejando fez as últimas perguntas da noite:
"O que aconteceu? Fiz alguma coisa que não devia?"