SAPATINHOS DE LÃ

E lá está Manã, sentada em uma poltrona. Ao seu redor, em seu colo, no chão, espalham-se não sei quantos novelos de lã. Tec, tec, tec, o barulhinho das longas agulhas retorcendo-se sem cessar. Um arco- íris de cores misturam-se profusamente, no que para mim, parece uma incompreensível confusão. E, aos poucos, vão surgindo de suas incansáveis e mágicas mãos, pares de delicados sapatinhos de lã.

Concentrada, ela certamente revive o milagre da maternidade, que ela vivenciou tempos atrás, com o nascimento de duas lindas menininhas. O tempo passou, aquelas menininhas cresceram, e, ambas ostentam hoje, simultaneamente, o milagre da vida em seus ventres.

Manã vai tornar-se vovó! Um sonho, uma aspiração longamente acalentada, uma realização dupla, pois dois menininhos estão a caminho. Quanta ansiedade neste esperar!

De vez em quando , ela interrompe seu tecer e parece meditar. Creio que ela já se vê, com os bebezinhos ao colo, e seus olhos maternais transbordantes de ternura.

Logo retoma o ritmo do delicado trabalho. Ela pega os sapatinhos por terminar, contempla-os, compara uns com os outros e tec,tec,tec, mais um par está quase pronto. Incrível, não há um par igual ao outro. As cores dançam entre seus dedos e as agulhas, puxa um fio, puxa outro, um nozinho, um corte com a tesoura, inverte posições, troca de novelo... Quanta arte, quanto amor neste interminável afã!

Não sei quantos pares já estão prontos, afinal, são dois nenês. Haja espaço nas gavetas separadas para guardá-los! Além disso, delicados bordados vão surgindo em toalhinhas, paninhos, camisinhas de pagão, todos diferentes, com predominância do azul, pois, afinal serão dois menininhos, e, com toda certeza, os dois bebês mais lindos do mundo. Que Deus abençoe estas novas vidas surgindo, que sejam muito bem vindos, muito amor, cuidados e carinho os aguardam.

Outro dia, uma das filhas grávidas, ao ver tamanha profusão de roupinhas e sapatinhos,espantou-se, abraçou a mãe e lhe disse carinhosamente, emocionada:

_ Mamãe, só vou ter UM bebê...

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Nota do autor: "Manã" é o apelido pelo qual trato minha querida irmã e a quem dedico carinhosamente esta crônica. Enquanto eu, também emocionado, vou ostentar o pomposo título de tio-avô...

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