CRÔNICA DE nATAL
CRÔNICA DE NATAL
A menina que existe em mim protestou desolada ante aquele imprevisto que a tirou de circulação às vésperas do Natal.
Não percorreria as lojas de brinquedo, ( não de muletas), não iria conversar com o Papai Noel e sentir a emoção e o brilho nos olhos das crianças
Não cantaria o ‘Jingle Bells” dentro das lojas, sequer se arriscaria a aproximar-se do teclado aberto e tocar “Noite Feliz”, unindo os freqüentadores da casa, como tantas vezes já o fizera como garota levada...
Não poderia admirar todas as vitrines e surpreender-se com as emoções da tecnologia moderna que tornava o Natal dinâmico, vivo, corrido, tão diferente dos natais da sua infância...
A menina que existe em mim não é uma consumista contumaz dessa época, mas gosta de receber e retribuir algumas lembranças, telefonar aos amigos, cantar, dançar e rezar...
Quando tudo silenciou, ela entrou sozinha para o quarto, fechou a porta, e resolveu, afinal, desembrulhar o presente que se dera neste Natal o qual acabava de marcar sua vida de uma maneira menos alegre.
Desamarrou com cuidado os laços que o prendiam e ali estava bem guardada toda sua infância feliz, repleta de sonhos, poesia, emoção e magia...
A chegada do Papai Noel, descendo sorrateiro sem que ninguém visse, aquela primeira boneca de verdade que falava mamãe e chorava, a missa do galo à meia noite, - na qual mais dormia que rezava, - a ceia com muitas coisas gostosas que até hoje degusta na lembrança e que não se fazem mais... (Ah! Vovó, quanta saudade daquelas coisas gostosas que só você sabia fazer... )
Noutro cantinho do embrulho, o primeiro romance, que mostrava que já não era mais criança, os primeiros sonhos de amor, o primeiro beijo assustado e medroso, o primeiro baile...
A menina que existe em mim não quer ficar triste nesta noite de Natal, as muletas estão encostadas, e em breve o estarão para sempre, e ela voltará a cantar e sorrir mesmo não sendo mais Natal.
Foi dormir sorrin