FORA DE CASA
 



 
A poeira daqui não é a minha.
A folha do papel é tomada da mesa da casa.
A TV não liga, está configurada só para o inglês.
O computador não liga. Nada funciona. Só ao toque especial do dono.
É quase intolerável esperar um taxi de previsão acima de meia hora ou uma.
 
Estar com os filhos é uma experiência esquisita, eles sentem e pensam que construíram outra vida que ainda não começou. Vida que é quase projeto. E esperança. O passado deles, mesmo jovens dos trinta anos, é tão distante, quase pré-histórico. É leve lembrança de fotos.

Eles não se sentem mais o que foram na vida. Visam só o futuro. Quando me olham já como uma saudade antecipada. Alguém diluída num tempo que não existe mais.

Não me olham como sou agora. Quase não convivem comigo mais.

Existe o amor entre mãe e filhos, mas tão secundário, que tenho dúvidas se ainda existe.