SOBERANIA OU ANEXAÇÃO

SOBERANIA OU ANEXAÇÃO

Crônica.

Dizem que para Imaruí não há solução plausível e nem tão pouco exeqüível.

Brincam até que para Imaruí somente existem três saídas a saber: uma pela restinga do Perrexil com a lancha, uma pelo acesso norte passando pelo Ribeirão do Cangueri, e a terceira a mais sofrível de todas, pela praia do Lessa.

Tamanha é a baixa estima que dizem alguns, os totalmente desanimados quererem escrever no portal turístico, (aquela casinha de joão-de-barro) construído pela administração passada o seguinte slogan: “Visite Imaruí antes que acabe”.

É perceptível e por demais notado o humor negro do povo.

Esse humor é sem sombra de dúvida um forte sintoma da endemia da baixa estima.

Um povo que não vê um porvir auspicioso, uma forma decente de sobreviver, cria automaticamente a baixa estima e a incredulidade em seus mandatários.

E estes mandatários são considerados incompetentes e torvados (perturbados) por esse mesmo povo.

Existe sim uma solução para Imaruí, o que está faltando é a tal da vontade política.

E essa inércia política, levará o município de forma súbita à extinção ou ao ermo inóspito.

Na crônica anterior achei que Imaruí era uma aldeia, mas nem aldeia não é, pois devem saber que esse aglomerado de índios, tem em seus territórios estabelecidos a sua estrutura política e com os poderes bem definidos, primitivos é claro, mas funcionam.

Temos, por exemplo: as existências dos Caciques, dos Chefes, dos Pajés e dos guerreiros, todos trabalham pelo bem comum.

E mais ainda, acreditem, vivem e não sobrevivem.

Exercem o sustento com a pesca, com a caça, com a pequena agricultura e também com o extrativismo.

É bem verdade que o governo os ajuda com verbas específicas para que, eles mantenham a sua soberania e a sua dignidade como um povo autônomo.

Dessa forma, mantendo vivos os seus costumes, a sua religião ou crenças, a sua língua, a sua dança, enfim a sua cultura.

Imaruí não é uma aldeia.

É uma comunidade miscigenada de povos de origens várias, tais como: os açorianos, os italianos, os alemães, os africanos, os índios, os caboclos, e de outras origens não catalogadas pelo IBGE.

O quê, então, acontece com Imaruí?

A resposta é simples. Imaruí foi transformado num feudo, um verdadeiro retrocesso à Idade Média, período obtuso da história, onde imperava a autocracia, a ignorância, a pobreza, a fome e a vassalagem escravizante.

Tudo abençoado pelo poder eclesiástico da época e hoje não é nada diferente.

Imaruí é um município emancipado há mais de cem anos, mas na verdade, a sua existência histórica remonta há séculos, sabidamente a cidade de Imaruí é irmã gêmea de Laguna pelo menos na idade.

Aqui as pessoas trabalham, quero dizer fazem de conta que trabalham, mas não prosperam.

É sinal da inexistência de uma renda constante, à circular pelo comércio local e pelo município como um todo.

A não ser o dinheirinho dos aposentados, que é uma esmola do governo federal através da Previdência Social.

A densidade demográfica é pequena por metro quadrado e a cada dia mais diminui. (verifiquem o último censo)

Este fenômeno é sinal aparente de fuga populacional através da emigração, principalmente dos jovens que em virtude da dormência local, procuram outros centros mais prósperos para darem continuidade às suas pobres vidas.

Não são somente os jovens que abandonam o município, abandonam também famílias inteiras desesperadas com a situação de abandono em que se encontram.

Partem em busca de melhores dias para as suas proles.

É uma falta de vergonha dos senhores políticos!

Para que vós fosseis eleitos representantes legítimos do povo?

E diziam que por ele lutariam pelo seu bem estar.

É vergonhoso também saber que são políticos mentirosos, safados e néscios.

O Feudo era uma instituição arcaica, um falso estado medieval, naturalmente autocrático, nada muito diferente de Imaruí.

Exemplos da semelhança:

O senhor feudal (o poder executivo) era autocrático.

A assembléia de Condes (o poder legislativo) era autocrática.

O conselho de juizes ou anciãos (o poder judiciário) era autocrático.

O poder eclesiástico (bispos e padres) também era autocrático.

E o povo vassalo servil e de baixa estima.

Essas são as semelhanças entre o Feudo Medieval autocrático e a falsa democracia em Imaruí, na verdade, um feudo moderno disfarçado de democrático.

A administração pública sem uma filosofia política é caminho silente e certo para o fanatismo e o desespero.

O mesmo acontece com as religiões, por que religião com teologia sem filosofia é caminho perigoso para o fanatismo.

Vejam o exemplo atual do Afeganistão com o seu Talibã fanático.

Situação política em Imaruí.

O Poder Executivo é homeopático, dessa forma, é executado gota a gota, não faz mal, mas bem também não faz.

O Poder Legislativo é placebo, os vereadores tomaram essa substância e tornaram-se inócuos, ineficazes e ineficientes.

O Poder Judiciário é antibiótico. É o que melhor funciona, mas somente é aplicado em casos de infecções sociais graves.

O Poder Eclesiástico de várias tendências religiosas é tido como o poder moderador, mas, na verdade, é dogmático, sectário e reducionista.

Um, pede a paciência dos fiéis e lhes insinua o conformismo, prometendo-lhes o céu e a salvação eterna como recompensa.

Os outros, ameaçam os seus adeptos com a ira e o castigo de Deus.

Pregam o teologismo equivocado como o temor a Deus e não o verdadeiro amor a Deus.

Agora, se não mudarmos o pensamento político exercido em Imaruí e a mentalidade do seu povo, realmente, não haverá solução factível.

Aqui os políticos da situação, (os vereadores) são batizados com o maldito dogma da tradição, uma característica medieval e hereditária, a bem da verdade, a tradição Bittencourt.

Os de Oposição que se parecem os mais ecléticos são, na verdade, fundamentalistas, querem fundamentar-se no poder de forma eterna e absoluta.

Se não houver uma solução política viável para Imaruí, eu tenho uma sugestão a fazer.

Seria como um retrocesso na história do município.

É a do processo de anexação do município a um outro município vizinho em expansão ou, que tenha características potenciais de desenvolvimento.

Não me venham falar em soberania, pois é preferível abrir mão da soberania a ver um povo honrado perdendo a sua auto-estima, e ser levado à exaustão por falta de oportunidades, até quiçá ao apocalipse final de suas vidas.

Se isso, um dia, vier a acontecer, o que tem grandes chances para tal, eu quero ver do que sobreviverão os políticos sem os seus recursos pecuniários provindos do erário público, pois são ineptos para qualquer outra atividade produtiva.

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 16/12/2006
Código do texto: T320082