DIANTE DA COVA
Ali! Frente ao inevitável destino que nos cabe. O sentimento de perda, a dor inconsolável, sujeita
quem tem a responsabilidade sobre o falecido, as “condições” daqueles que estão encarregados de levar o finado para a sua morada definitiva. E esse triste momento que deveria ser simples e rápido torna-se dificultoso e doloroso, pois o agente funerário, do alto da sua competência determina:
. Necessidade de sangrar o corpo do finado para que esse não vaze durante o velório. Algo em torno de R$ 800,00.
. Aumento da cova, para que nela caiba o caixão, ardilosamente vendido/fornecido com metragem acima do tamanho natural do cadáver.
O Coveiro se dispõe a aumentar o cumprimento da cova, a partir de um adicional em torno dos R$ 150,00.
E assim vai a Família sendo explorada. E assim vai o finado sem mais nenhuma preocupação na vida. Essas ficam com os vivos!
Então, surge o dia no qual essa classe decide parar suas atividades e fazer greve.
Essa greve revela uma tragédia social ainda maior.
Aos olhos da população o teatro do horror abre suas portas e revela que esses oportunos malandros, não são tão malandros como parecem ser.
Oportunistas sim! Necessitados, então nem se fala.
Alguns acham um absurdo à paralisação desse serviço. Agora visto como muito importante.
O Alcaide-mor da cidade fala em chantagem e que não vai admiti-la na sua operante e modelar gestão.
Esse deveria sim! É não admitir um funcionário seu ganhando um salário de fome. Sim, esse que leva o seu ente querido a sepultura, e ali sujeito a todo tipo de adversidades contaminadoras, volta cumprida a sua cota de enterros, para sua casa e lá muitas vezes não tem sequer um ovo para servir de mistura.
Vive esquecido, entorpecido e subnutrido.
É o seu salário, o maior incentivo para o oportunismo profissional.
Trabalhadores assim são vítimas do descaso por parte dos administradores públicos, que dão o exemplo levando o seu por debaixo dos panos, sem que nada lhes aconteça.
Esses "CARONTE"
da atualidade têm sim o direito de parar o seu serviço e assim fazendo, poder dizer para esta sociedade alienada e submissa:
- Eu existo e para existir preciso de um salário digno.
No fundo, não da cova, mas de suas consciências eles sabem que nada vai mudar, pois o sistema que os governa é cruel e vingativo.
Eles vão continuar tendo que criar funéreas oportunidades de um ganho a mais sobre a desgraça alheia.
Eu, por não ter no futuro condições de arcar com tais oportunismos, já determinei aos meus.
Quando chegar a minha hora, deixem-me em algum lixão dos muitos que existem por ai.
O tempo e o vento se encarregarão de levar minh´alma até onde ela precisa chegar, não quero navegar no barco caro do Caronte moderno.
Esta ação não fará diferença quanto à quantidade de lixo existente no lugar escolhido. Muito menos na qualidade do ar local.
Ali! Mais podre que no terreno político não haverá de ficar.
AQUI JAZ O “FIM”