ESPOSA INFIEL
DESABAFO DE UMA ESPOSA INFIEL
Ele simplesmente acorda e vai trabalhar; chega cansado, sorumbático, mal humorado; toma banho, janta e vai dormir, para depois acordar e ocorrer tudo novamente...
É assim de segunda a domingo; sem nenhum intervalo para tentarmos vencer uma melancolia que dura apenas seis meses, tempo em que estamos casados e sequer temos filhos.
Imaginar que ele tem outra? Creio que não! Fazer sua fortuna pessoal é mais importante do que ter outra pessoa ao seu lado; seja eu ou uma amante! O dinheiro é muito mais importante para ele do que tentar consolidar uma vida a dois. Não temos mais qualquer prazer, seja carnal, afetivo ou de qualquer outro tipo...
O que devo fazer? Consolar-me com a solidão de uma casa enorme que me pertence exclusivamente à maior parte do dia? Ir à luta e buscar a minha felicidade? – Eu já faço de tudo um pouco para esquecer os momentos frios de minha solidão e agora me resta apenas esperar...
Enquanto ele não chega e eu me mantenho sozinha, na maciez de meus lençóis e na fertilidade de meus pensamentos, supero qualquer barreira entre o aceitável e o inimaginável. Transponho qualquer barreira que me prenda a uma vida em consórcio matrimonial e busco simplesmente ser feliz, mesmo que em companhia de mim mesma...
Se eu for infiel não me preocupo, porque o que vale agora é tentar esquecer de que um dia eu amei tão fortemente que deixei para trás uma carreira e todos os sonhos, inclusive os que dizem respeito a uma vida conjugal.
Preciso agora me descobrir mais; viver um momento em que somente eu consigo me proporcionar prazer; acreditar que estes momentos infelizes um dia passarão e que alguém de formato peculiar me baterá a porta e me fará uma mulher de verdade, feliz e fêmea.
Esta pessoa já existe; ele apenas não sabe, ainda, que sua cara-metade sou eu; mas presume e já começa a perceber!
Quando ele me vê na rua ou pela janela, percebo que me olha com olhares de desejo. Sabe-se que pertenço a outro, isso é outra história e pouco importará para este meu homem; mas ele me deseja, porque eu também imagino isso; e se por acaso o destino não nos aproximar, farei de tudo para encontrar outro, ou outros; mas não desistirei jamais da condição de ser feliz e poder de fato dizer que sinto prazer ao lado de alguém.
Não quero perder a sensualidade que nasceu comigo; não quero afastar a menor possibilidade de secar por dentro e possuir um coração de pedra. Quero amar, ter filhos, ser esposa de fato, trabalhar e construir um ambiente perfeitamente harmonioso para minha família, mas não mais serei submissa, revoltada ou esquecida!
Filmes, revistas, novelas e contos já não me bastam; por isso que eu quero você...
Carlos Henrique Mascarenhas Pires é autor do blog www.irregular.com.br; esta é uma carta de próprio punho recebida de uma autora anônima.