Virtual-Real…? - ou o que pode estar escondido no anonimato da Web, da net…-

Tudo quanto se diz, se faz, na Web, na internet, nunca mais sai dela, mesmo que apaguemos esses registos, eles de facto não desaparecem, vão existir enquanto a própria Web existir…

Nada de novo, nada que não tivesse sido de alguma forma previsto antes de acontecer, mas entristece-me constatar, que apesar de todos os avisos, de todas a advertências se está a seguir um caminho que ao fim ao cabo não leva a lado nenhum, que acaba por ser um engano ou um mascarar da realidade etc…

Uma coisa é ter um papel profissional, de social (no que toca à defesa de causas) que prolongamos para a Web, ela é particularmente útil em tal, que o digam por exemplo as revoltas do médio oriente, cujo sucesso ou alastrar passou muito pela Web, pela rede, que dispõe hoje de um papel incontornável, e ao que parece será assim senão para sempre, senão durante muito tempo…Clubes de literatura, de troca de ideias etc…enfim, coisas realmente úteis que nos acrescentam algo…

Outra coisa são as chamadas Redes Sociais Virtuais e alguma da utilização que lhe dão…demasiada utilização…há uma criação original, depois ela cresce e desenvolve-se consoante o uso que lhe dá o homem, isto é basilar, básico, elementar, mas neste caso, no caso da Web, a esmagadora maioria dos contactos dá-se com pessoas que não conhecemos pessoalmente, que o que dizem ou mostram pode não passar de uma mera virtualidade, de algo que se diz para gostarem de nós, não se sentindo realmente o que se diz, um estratagema utilizado socialmente por vezes, mas cara a cara podemos detectar tal, há uma série de indicadores que nos apontam isso, mas no mundo virtual a dissimulação é mais difícil de detectar, logo mais perniciosa, logo mais perigosa, porque o que nos pode separar de uma falácia, de um engano é a nossa personalidade e uma certa aprendizagem a nível social…

E as próprias regras não assumidas do mundo virtual tal implicam, nunca se mostrar como é, mas isto no intuito de nos protegermos, de protegermos a nossa privacidade e intimidade porque não sabemos, e nalguns casos nunca saberemos de todo, com quem estamos a lidar de facto…

O problema é que muitas pessoas vão para além de tal, criam perfis e personalidades perfeitamente fictícios, virtuais, e na pele dessa personagem têm aquilo que se pode chamar de “existência paralela” à sua do mundo real…

Avatares, personalidades inventadas ou maquilhadas são a norma e não a excepção…reparem por exemplo nas fotos que se usam na Web, principalmente as de apresentação…elas falam por si, dariam por si só lugar a várias teses de psicologia, sociologia, e até de antropologia…

As novas formas de socialização do mundo moderno podem ser desvirtuadas, falaciosas, alienatórias…Uma coisa é contrabalançarmos uma vida social natural com outra virtual, sermos os mesmos, com defesas, claro, que também as temos no mundo natural, outra são duplas personalidades, existências paralelas…

O que interessa passa por ser partilhar com estranhos que chamamos “amigos(as)” toda uma vida, colocar fotos dos momentos vividos na hora, beber os seus comentários ou tomar tal em demasiada consideração, quando não passam de estranhos que nunca vimos nem viremos, mas como estamos a socializar vale tudo ou quase tudo mesmo que essa socialização seja um logro, pois a socialização faz-se cara a cara…Não me venham com histórias…não conheço ninguém que tenha muitas dezenas de amigos e muito menos centenas ou milhares…conhecidos sim, mas amigos…? E quem disser o contrário anda enganado, anda perfeitamente iludido…

Como o mundo virtual pode ser moldável, pode ser ele próprio uma criação nossa, corremos o risco de vivermos numa ilusão e de querermos perpetuar essa ilusão, porque neste mundo a dor, a desilusão ou não existe, ou deixa de existir com um simples clicar de um mero botão…tendemos para a crença, tendemos a acreditar naquilo que desejamos acreditar, e por isso a tendência poderá ser acreditar em quem nos diz aquilo que queremos ouvir e não naquilo que devemos ouvir…isto de certa forma faz-me lembrar um bocadinho a Alegoria da caverna de Platão…, cujo resumo faço aqui…

“Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali.

Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os, com certa razão, às sombras, pensam ser eles as falas das mesmas. Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.

Imagine que um dos prisioneiros consiga se libertar e, aos poucos, vá se movendo e avance na direcção do muro e o escale, enfrentando com dificuldade os obstáculos que encontre e saia da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza.

Caso ele decida voltar à caverna para revelar aos seus antigos companheiros a situação extremamente enganosa em que se encontram, correrá, segundo Platão, sérios riscos - desde o simples ser ignorado até, caso consigam, ser agarrado e morto por eles, que o tomaram por louco e inventor de mentiras.

Platão não buscava as verdadeiras essências na simplesmente Phýsis, como buscavam Demócrito e seus seguidores. Sob a influência de Sócrates, ele buscava a essência das coisas para além do mundo sensível. E o personagem da caverna, que acaso se liberte, como Sócrates correria o risco de ser morto por expressar seu pensamento e querer mostrar um mundo totalmente diferente. Transpondo para a nossa realidade, é como se você acreditasse, desde que nasceu, que o mundo é de determinado modo, e então vem alguém e diz que quase tudo aquilo é falso, é parcial, e tenta te mostrar novos conceitos, totalmente diferentes. Foi justamente por razões como essa que Sócrates foi morto pelos cidadãos de Atenas, inspirando Platão à escrita da Alegoria da Caverna pela qual Platão nos convida a imaginar que as coisas se passassem, na existência humana, comparavelmente à situação da caverna: ilusoriamente, com os homens acorrentados a falsas crenças, preconceitos, ideias enganosas e, por isso tudo, inertes em suas poucas possibilidades…”(fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_da_caverna)

Porque de facto há uma serie de regras na Web que devem ser seguidas, muitas delas para além do razoável facto de nos quererem proteger ou aos nosso filhos, sob a capa da “defesa de valores” essas regras policiam o pensamento, a livre expressão, somos todos politicamente correctos...e quem não o é...sofre as consequências de uma censura "que não há" (isso é para bárbaros subdesenvolvidos ou para ditaduras...)que em nome de supostos "bons costumes" faz o que as outras censuras fazem, mas de forma disfarçada...sim, porque nos dias de hoje, censura no Ocidente...? Não há...há é antes a preservação dos ditos "bons costumes"...o engraçado é que é este mesmo argumento que está na base de todas as censuras...

O Grande Irmão de George Orwell criado em 1984 no seu livro “1984” existe mesmo, está entre nós, mas de uma forma disfarçada, dissimulada, porque normalmente as melhores formas de dominação são as mais subtis, as que proporcionam ao dominado a sensação de liberdade, quando na realidade somos quase tão escravos com os outros…

Felizmente que a Web é vasta, que apesar dos tais sistemas de dominação é sempre possível descobrir a verdade, ou pelo menos uma versão diferente daquilo que nos dizem, o problema é que isso dá trabalho e as pessoas não se querem dar a esse trabalho…mas se procurarem, ela anda por lá, e isso é uma força, se calhar a maior força da Web que os sistemas políticos e económicos (os verdadeiros donos do mundo, da realidade…) tanto temem e tanto perseguem…porque a verdade se revelada por vezes pode colocar em causa a sua dominação…

O que interessa para além do nosso bem estar físico, é o nosso bem estar mental, e a liberdade, a lucidez passa por tal, e nesse campo, se bem usada, a Web pode ter um papel complementar de terminante…desde que a saibamos usar e não sermos usados…desde que saibamos que a sombra na caverna não passa de uma mera sombra, humana sem dúvida, mas os verdadeiros humanos estão noutro lado que não ali…e este simples raciocínio faz toda a diferença, define a linha entre o que é real e o que é…virtual…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 02/09/2011
Reeditado em 02/09/2011
Código do texto: T3197073
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