Era final de tarde. Ela convidou-me e prontamente aceitei acompanha-la até a loja de roupas. Inicialmente seria uma compra pequena, apenas uma calça, seria rápido e eu tinha um tempinho até o próximo compromisso.
Ela chegou e logo já fomos atendidos por uma vendedora. Eu a deixei navegando por entre as roupas expostas e fiquei apenas analisando o local.
A loja era grande, tinha varias vendedoras. Naquele final de tarde parecia que a cidade inteira decidirá fazer compras, aquilo estava lotado. Vi um relógio na parede, faltavam 10 minutos para as 18 horas.
Uma velha olhava uns vestidos floridos. Um menino na minha frente estava experimentando algumas chuteiras, olhava, estudava, apertava, calçava, tirava de volta e assim seguia no meio de várias chuteiras, e por incrível que pareça não via uma sequer de cor preta, tinha todas as cores, amarela, rosa, verde, laranjada, outras que mais pareciam um arco-íris, mas preta, não tinha. Achei engraçado, e lembrei que tempos atrás o preto era a cor da chuteira, predominantemente pretas.
Uma jovem na minha frente estava na sessão de biquínis. Mulher escolhendo biquíni é algo ainda mais interessante, ela olhava todos minuciosamente, a vendedora dava opiniões, trazia novidades e ela demorando em se decidir. Eu particularmente não entendo de biquínis, mas se fosse pedida minha opinião diria que o branco era o mais bonito, não que fosse, mas certamente era o mais pequeno.
O marasmo de ficar esperando era muito esquisito, afinal o tempo passa, os minutos vão se esvaindo e nada. Me sentei numa poltrona, creio que era a usada para que os clientes experimentassem sapatos. Senti um animal voando em minha volta, tentei identifica-lo, mas ele passava muito rápido. Primeiro supus que fosse uma abelha, não gosto de abelhas, uma vez vi um homem morrer por causa da picada deste inseto, e aquilo nunca me conformou. Imagina uma única abelhinha morder você e mata-lo, era algo até engraçado: “Ele morreu de que?” iriam perguntar e responderiam “pela picada de uma abelha”, era algo sem noção, uma forma muito idiota de se morrer.
Mês estapeei e notei que a bichinha foi atingida por um golpe dos meus. Cai no chão, tentou bater as assas, mas não conseguiu, estava morta, não tinha jeito, aquela levou a pior, e não mataria mais ninguém.
Olhei novamente para o relógio, 18 e 40, nem tinha notado, mas já fazia quase uma hora que estava naquele lugar, olhei em volta e notei que a loja estava quase vazia, a moça dos biquínis já tinha ido embora, percebi que ela escolherá outra cor, pois o branco seguia exposto. Procurei a velha, não a encontrei, então meus olhos foram atrás do moço das chuteiras, que também já tinha pegado o seu rumo. um vazio se pegou no meu corpo, afinal o ambiente em minha volta tinha se transformado e eu nem tinha percebido.
Lembrei-me da finada abelha, procurei-a na minha frente e imagina, ela tinha sumido. O que acontecerá com aquela abelha? Será que tinha apenas se fingida de morta, e agora estaria arquitetando um plano malvado para acabar com minha vida? Aquele pensamento me fez sentir um ar frio na espinha.
“Vamos”, ela chegou e ordenou, levantei lentamente e a acompanhei até a porta, ainda olhei para o relógio mais uma vez, eram 18 horas e 55 minutos, imaginei 1 hora e 5 minutos de tempo perdido. “Comprou a calça amor?” essa foi minha pergunta. “Não tinha nenhuma que caísse bem em mim”, essa foi à resposta dela. 1 hora e 55 minutos e ela simplesmente não comprou a calça, não comprou nada, não fez nada, e eu tive que esperar.
Existe maior exercício de paciência que acompanhar uma mulher a compras?

 
Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 02/09/2011
Reeditado em 03/09/2011
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