Perdão, mas falarei de política

Vejo com simpatia a campanha proposta pelo Jornal Evolução, em que escrevo, para diminuição dos gastos com deputados, senadores e vereadores – e o aumento dos recursos para coisas mais importantes. A campanha propõe inclusive o fechamento do Senado. Acho interessante porque, entre outras coisas, diminuirá o meu trabalho. Vez ou outra preciso ir lá cobrir alguma audiência pública. As sessões são muito parecidas com as da Câmara, cujo fechamento me representaria um alívio ainda maior. Quando estou nesses ambientes, prometo a mim mesmo que jamais, em hipótese alguma, por pior que ande a minha situação financeira, irei me meter com política – tenho uma reputação a zelar.

Nessas situações, lembro-me de Francisco Cunha Pereira, fundador da Gazeta do Povo e da Rede Paranaense de Comunicação. Francisco era uma unanimidade, a única que conheci até hoje. Entrevistei vários funcionários e colaboradores do jornal, de todas as épocas, e não encontrei um sequer que falasse contra ele. Aquilo que poderia ser um defeito era relevado diante das virtudes que se apontava nele. Embora fosse de perfil conservador, ouvi rasgados elogios vindos de funcionários de esquerda, que se diziam livres de censura. Era um homem bem visto por todo o Paraná.

Mas que não se meteu na política. E não foi por falta de convite. Um homem com tantas qualidades, e ainda dono de importantes meios de comunicação, certamente seria muito bem vindo em qualquer partido. Mas Francisco não aceitou nenhum convite. Nunca se candidatou a cargo algum. E, sinceramente, acho que fez bem. Dificilmente conseguiria tamanho respeito e admiração se passasse a mexer com essas coisas. Pôde morrer tranquilo, sabendo que trabalhou pelo Paraná e não teve mancha alguma em seu currículo.

Vou descrever uma audiência pública na Câmara dos Deputados: são cerca de três horas em que, supostamente, os deputados ouvem especialistas sobre assuntos que estão em discussão por lá. O objetivo é clarear ideias e melhorar os projetos de lei. Costuma atrasar. O presidente da sessão dá a palavra para meia dúzia de convidados, cada um com cerca de 15 minutos, sendo que a maior parte do tempo é gasta explicando quem são eles e porquê estão lá. O restante é usado para resumir o que já se sabe, e eventualmente acrescentar algo. Enquanto eles falam, o presidente da sessão muda umas cinco vezes. Eles têm formiga no traseiro. Todos vão ao banheiro, vão telefonar, vão ao raio que os parta, mas são incapazes de ficar quietinho prestando atenção.

Ao final das apresentações, abre-se um espaço para perguntas. Então um deputado que chegou no meio da audiência costuma perguntar alguma coisa, geralmente uma tolice. Ao ouvir a resposta, logo sai – e às vezes sai antes de ouvir. Nenhum deputado fica o tempo todo lá, e ninguém se preocupa em anotar alguma coisa. O presidente da sessão, esse sim, anotou algumas perguntas, e as faz em sequência, e demora uns cinco minutos para perguntar tudo. Todos os convidados respondem brevemente. E, ao final, todos se dizem satisfeitos com os resultados da audiência – que, na prática, é quase nada.

Se não fecharem o Congresso, podiam melhorar a eficiência parlamentar.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 02/09/2011
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