Avá

- Pai, deixa eu te fala uma coisa nova que o pessoal está falando - introduziu meu filho, em um tom professoral.

- Como assim?

- É tipo uma gíria.

- E como é?

- Avá.

- Ah... vá? Como quem diz: ah, vai... conta outra?

- Não. É “avá” e pronto.

- E como usa?

E ele foi me explicar que essa palavra estranha é usada quando seu autor quer denotar que aquilo que está acontecendo já é conhecido. Ou, mais bem explicado pelo meu filho, é quando uma amigo seu fala uma coisa que você já sabia, você diz “avá”, laconicamente (ressalto que o “laconicamente” foi um acréscimo meu). Eu, particularmente, teci algumas críticas sobre essa nova gíria que me pareceu uma estranha contração de alguma coisa que não identifiquei, de um minimalismo exagerado e que, em uma análise mais profunda, carrega uma má intenção de acabar com a novidade de um fato, e como nós sabemos, em tempos de internet falta de novidade é considerado falta grave, com direito a 5 pontos na carteira.

E, já que estamos aqui falando em internet, lá veio de novo o guri me dizendo que a Cadence, participante do DJ3KS, e o RockShopper estariam no Club hoje a tarde. Eu, na sequência, perguntei que idioma ele estaria falando. Foi aí que, insulto dos insultos, meu filho me explicou sobre as atuais tendências das celebridades que só existem em certos círculos de redes sociais.

Algo está errado em tudo isso. Eu me esforço para me manter na crista da onda desse mundo virtual. Tenho mais contas do que consigo gerenciar, em mais sites do que conseguiria consultar. Manjo até bem de computadores e estou sempre ligado. E sem aviso, assim de repente, o garoto acha que pode vir me dando essa aula sobre o assunto. Tudo bem que eu nunca tinha ouvido falar dessas coisas, mas isso só aprofunda a ofensa.

Eu achava que eu seria diferente da geração que me precedeu, e iria conseguir ficar “conectado”. Afinal de contas, cresci com os video-games e os computadores. Já estava preparado para não gostar da nova música e dos novos filmes, e faria isso até com um certo orgulho daqueles que protegem o último bastião do bom gosto. Mas pensava que, ao menos, estaria por dentro desses assuntos mais cibernéticos e das gírias. Não antecipei o meu atropelamento, a hora que receberia lições de garotos de 9 anos sobre “como as pessoas estão falando”. Tudo está acontecendo muito rápido. Mas, no fundo, eu já sabia que seria assim. Avá.