Encontrei meu Panamá
Itamaury Teles (*)
Aviso, a quem interessar possa, ter reencontrado o meu chapéu Panamá, que andara desaparecido. Fez-me muita falta nesses dias de ausência, já que o sol inclemente castigou minha desprotegida moleira, conquanto ainda coberta por cabelos grisalhos, que o tempo haverá de encanecê-los – assim espero…
Procurei-o por toda parte: no Café Galo, no Skema, no Kentura, em uma borracharia a que estivera dias antes, numa tornearia onde serrara alguns parafusos, debalde…
Revi fotos dele adornando não só minha cabeça, mas a do prefeito e de outros amigos, no “Baião de Dois do Karoba”. Aí, a saudade lancinante aumentava.
Sobre minha mesa de trabalho, seu lugar de honra permanecera vago. E aquele vazio me incomodava, principalmente quando escrevia meus textos, pois sempre lançava olhares pidões de inspiração a ele, que nunca me negara fogo.
Na internet, especialmente no Facebook – um site de relacionamento – os amigos continuaram solicitando notícias dele. Afora as “curtições”, foram 55 comentários postados, o que demonstra bem o interesse pelo meu “Genuine Panama”, “Handwoven in Ecuador”, “Made in Italy”, número 59, compatível com minha cabecinha de descendente de cearenses…
Uma “amiga”, em comentário irônico, disse já ter visto de tudo: gente perder dinheiro, óculos, celular, chave, a cabeça, mas chapéu? Nunca viu contar… E sentenciou impiedosa: - Uma pessoa, pra perder um chapéu, deve estar louca ou roendo beira de penico…
Outra, em comentário de viés psicanalítico, disse já ter visto homens perderem tudo: dinheiro, casa, no jogo, mulher e nem reclamaram. “O seu caso é preocupante…”. E, esperta, arrematou: - Mas se achar, eu não devolvo, não. Esta história me seduziu. E o seu chapéu é o protagonista. Quem irá devolvê-lo? Vá esperando!! Ainda mais um legítimo Panamá…
Houve até quem achasse, em comentário curto e direto, que o chapéu Panamá é a minha marca e que fico nu sem ele…
O escritor e amigo Leonardo Campos também comentou o sumiço, dizendo estar muito interessado na gratificação oferecida, embora apostasse que eu jamais reveria meu chapéu. Para ele “os extraterrestres de Olhos D’Água o carregaram para outra dimensão interplanetária…”
Em meio a outros comentários, a escritora Mara Narciso pontuou consolando e afagando meu ego, ao dizer que “o conteúdo do chapéu, o que realmente emociona e vale a pena, está a salvo, e isso é o que importa.”
Houve também quem me sugeriu dar três pulinhos para “São Longuinho”, dizendo ser ótima e eficaz simpatia.
Na realidade, seguindo tradição materna – ela, montes-clarense de quatro costados -, invoquei mesmo foi o Joaquim Nagô, um escravo injustamente enforcado em Montes Claros, em 1836, onde é hoje o Café Galo. No dia seguinte – acredite quem quiser -, encontrei meu chapéu Panamá, num improvável local, pois ali jamais o colocaria. Ele repousava, incólume, na parte mais baixa de um armário, exatamente onde guardo algumas preciosas garrafas de cachaça...
Agora, o que sumiu, de repente, no último sábado, foram meus óculos de grau. Alguém os viu por aí, em busca de olhos míopes?
(*) Escritor e jornalista
E-mail: itamaury@hotmail.com