Rabo preso.
Nosso Parlamento provou hoje que os políticos não têm o mínimo respeito para com a delegação recebida pelo sufrágio popular. São verdadeiros “caras-de-pau” e se escondem; tal qual refúgios de covardes, nas sombras das próprias soluções, a partir do momento em que ficam encobertos pela votação secreta.
Quantas vezes ouvimos dizer que fulano tem o “rabo preso”. Acho que no universo dos políticos, poucos se salvam dessa sentença popular. A Câmara dos Deputados, ao votar, através de 265 votos em favor de Jaqueline Roriz, deu uma demonstração de como se faz para não correr o risco de um dia o caçador virar caça.
É incrível como tais representantes populares fazem pouco caso com os votos que receberam da população. A admissão entre Eles de uma pessoa comprovadamente implicada em propinas e recebimentos de maços de dinheiro em campanha eleitoral, torna-se a assinatura de um cenário antiético e de visível anuência com a imoralidade.
O discurso de Jaqueline Roriz afirmando que tudo aconteceu quando ainda era cidadã sem mandato, chega a causar náusea em que tem um pouco de compreensão das mazelas Parlamentares. Ou melhor, não foi preciso um discurso coerente e cheio de alternativas jurídicas, bastou apenas que a Deputada mostrasse que enquanto tem o mandato inibe sua ânsia de locupletar-se com o dinheiro público. A pergunta é: Qual importância de tudo ter acontecido antes ou depois? Onde fica a noção de caráter e de responsabilidade sobre o cargo que ostenta?
Essa votação foi a última gota de esperança que qualquer eleitor podia ter sobre a integridade dos homens públicos. Quem chegou a ver o vídeo, constatou que ela (Jaqueline Roriz), recebeu maços de dinheiro (em 2006), oriundo do tão falado mensalão do DEM. Ninguém teve o trabalho de tentar uma defesa técnica sobre tais acusações, alegando inocência ou qualquer coisa do gênero. A assessoria da Deputada tinha plena convicção de que aquela singela imagem não seria suficiente para retirar o mandato por falta de decoro parlamentar. Aliás, isso convence ainda mais que nosso Parlamento está rodeado de gente oportunista e sem escrúpulos no que concerne a aproveitar-se de oportunidades de tal monta.
Isso nos entristece e nos deixa ainda mais perplexo ante a desfaçatez do poder, seja ele de ordem direta ou indireta, como é caso do Parlamento. Fica difícil explicar para um filho, que nosso país é assim, corrupto por excelência, mas, que ele, como pessoa humana, não pode ceder aos apelos do sistema político.
Se já é difícil conviver com tais manobras políticas, mais pesaroso é convencer o povo humilde de que eles, como cidadãos, não podem seguir tais exemplos. Aquele homem surrado pelas dificuldades de sobrevivência, não entende porque deve ficar à mercê de tantos atos de imoralidade, afinal, se a desordem vem de cima, porque aqui embaixo deve haver ordem?
Mas, nós que não comungamos com tais desmandos, somos convidados a resistir e a insistir em manter um mínimo de convivência pacífica, para que possamos construir um país de pessoas eticamente preparadas para o futuro. Não vamos esquecer que o futuro pertence à geração que estamos educando.