Vivemos um paralelo.

Já ouvimos falar muito no paralelo. Refiro-me àquele produto que não é de primeira. Trata-se de algo que deve ser considerado de segunda linha. Por isso, quando achamos algo no paralelo, compramos porque o preço combina com nossa condição financeira, já que os produtos de primeira são caros e, muitas vezes, o seu valor é alto porque a etiqueta vem agregada em seu conteúdo.

Hoje recebi um e-mail (de um amigo) que me chamou atenção. Tratava-se de uma matéria experimental com o fim de mostrar o quanto as pessoas valorizam a etiqueta do produto. Um violinista renomado abriu seu valoroso instrumento num metrô e começou a tocar. Ninguém se interessou pelo conteúdo da sua exibição. Certamente, achavam que era um iniciante querendo chamar a atenção. A verdade é que as pessoas nem percebiam que o executor de tais acordes era o mais prestigiado violinista do mundo. O artista era nada mais que Joshua Bell, que tocava com um violino (Stradivarius) de 1713, no valor de três milhões de dólares. Esse mesmo violinista tinha feito uma apresentação num local famoso, cobrando ingressos caríssimos e o espetáculo foi prestigiado por milhares de pessoas.

O fato é que vivemos num mundo de etiquetas, onde a valorização das coisas está mais associada ao rótulo do que ao conteúdo. Assim, recebe mais quem faz mais propaganda. Quem ainda está no anonimato e muitas vezes possui produto melhor que outrem (mais conhecido), acaba amargando o fato de não ter mídia, ou não ter cacife comercial para bancar sua marca, por isso, acaba sendo denominado como subproduto, tendo que oferecer um preço menor, já que a ‘lei das etiquetas’ lhe denomina de ‘paralelo’. Em muitos casos o produto ‘paralelo’ é tão bom quanto o ‘original de fábrica’.

Assim também é a vida, pois o mundo é graduado por etapas no contexto social. Existe quem tem o prestígio do poder e como tal forma uma elite impenetrável para aqueles que não possuem o mesmo título. Ou melhor, a alta sociedade não permite que os seres menos graduados em termos de ‘status’ sejam igualados em termos dos louvores que estão à disposição somente daqueles que possuem títulos do alto escalão.

Um episódio recente demarca essa realidade. Determinado cidadão recebeu comenda de cidadão campo-grandense. Outro recebeu comenda de mesmo grau, ou melhor, de cidadão campo-grandense de origem nordestina. Ambos são ligados ao Poder Judiciário. O primeiro, por ter condição social menos referencial no ‘status’ social não mereceu sequer uma nota no órgão de divulgação do Tribunal de Justiça do seu Estado. O segundo, por estar inserido no alto escalão recebeu todas as honras e todas as notícias. Está aí um caso típico de ‘paralelo social’.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 31/08/2011
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