A votação secreta
Este arremedo de crônica começou com a tentativa de comentar um texto da recantista Luciana Monteiro sobre a culpa da imprensa. Por respeito à escritora, e para não sobrecarregar os eventuais leitores dela, e também para indicá-la aos que ainda não a leram, e não sabem o que estão perdendo, resolvi estender o assunto. Lá vai:-
Votamos com a boca faminta dos miseráveis.
Alimentamo-nos de promessas revestidas dos sabores mais diversos, digerimos com os sucos gástricos da mídia sensacionalista, ficamos empanzinados de denúncias, e o bolo fecal resultante da diarréia cívica é depositado em lustrosos e assépticos vasos sanitários conhecidos como urna eletrônica onde, após a descarga, será levado às cloacas municipais, estaduais e federais, eufemísticamente denominadas de palácios, câmaras , prefeituras, congresso, etc, onde deveria ser tratado pelas bactérias anaeróbicas da probidade, honradez, decôro, e outras. Mas, sempre tem um mas, não é o que ocorre. Tomamos então a esperança, em doses homeopáticas durante quatro anos em média, em alguns casos, até em oito anos.
E, entorpecidos, como viciados em alienação, repetimos o processo.
Nossa educação política, deveria, a meu ver, começar pela obrigatoriedade em visitar as reais Estações de Tratamento de Esgotos existentes em várias cidades, e nos horrorizaríamos com o volume de merda produzido e misturado à nossa em particular. Quem sabe, assim, sentindo o fedor da nossa produção junto ao das demais pessoas, um dia seremos capazes de reconhecer nossa falibilidade e incompetência em sermos incapazes de continuar produzindo o esterco necessário à nossa própria natureza, e reconheceremos que a merda pode vir a ser útil, se devidamente tratada, e aproveitada para adubar nossos campos no futuro.