Sacola Vazia Voando

Há um casal ali em pleno fogaréu hormonal. Do lado esquerdo de quem vem da Avenida, rente ao bloco de concreto, há uma abertura no chão, com uma grade, que é por onde se escorre a água. Conte seis paralelepípedos à direita. É aí que estou, sentado no segundo bloco de concreto, com os pés no primeiro, e, atrás de mim, tem uns cinco andares de queda livre até o asfalto. Em um dia ruim eu teria sentado no primeiro bloco, com os pés nos paralelepípedos e com costas encostadas no segundo banco. Vai que as ponderações sobre pular ou não resultem no meu corpo estatelado e retorcido lá embaixo; sangue saindo pelos olhos, sangue saindo pelo nariz, sangue saindo pelos ouvidos; não, eu, hein? Hoje é um dia típico que os americanos usam a palavra "chillin" para definir. O vento está forte, muito forte, e o cabelo da moça do casal fica esvoaçando e ela o prende de forma hábil com uma caneta; ela, com a coxa por cima da coxa do homem com sua mão esquerda desprovida de adornos enquanto a mão esquerda dele, provida de um anel dourado, repousa entre sua virilha. E eu aqui, acreditando em coisas sacras. Acreditando em amor. Observando perseguições aéreas e terrestres de pombos com tesão. Desacreditando de coisas sacras. E desacreditando do amor.

31/08/2011 - 04h22m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 31/08/2011
Reeditado em 31/08/2011
Código do texto: T3192212
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