Flor amarela
A menina estava chorando, meteu o rosto entre as mãos e chorava, sozinha. Não era um choro desesperado, como o da maior parte das pessoas que estava ali, mas um choro que parecia vir por outro motivo, diferente do que arrancava lágrimas de todos. A mãe, percebendo que a menina havia silenciosamente se afastado, foi atrás dela. Achou a garotinha sentada sob uma estranha árvore sem folhas, só de flores amarelas.
"O que a senhorita faz aí sozinha?" - perguntou a mãe.
"Só estava pensando em uma coisa." - a menina enxugou as lágrimas.
"Em quê?" - a mãe sentou-se do lado dela.
"Quando a vovó estiver no céu... ela foi pro céu num foi?"
"Foi sim, ela já deve estar lá numa hora dessas." - a mãe suspirou fundo, como se dizer aquilo fizesse seu coração doer.
"Quando ela estiver lá, porque agora ela vai viver lá, ela vai estar sem a perna que tiveram que cortar? Ela vai ter que usar o negócio de respirar e aquela mangueirinha enfiada no nariz?"
"É claro que não. No céu, não vai ter nada disso."
"Nem a perna cortada?"
"Não, de jeito nenhum. No céu, todos são exatamente como nos lembramos deles. No céu, a vovó será do jeito como as pessoas que a amavam se lembram dela."
"Então, lá no céu, a vovó será do jeito como eu lembro dela?"
"Vai sim!"
"Aaahhhhh... então vou me lembrar de quando ela fazia biscoitos, de quando ela cantava enquanto varria a casa e mais ainda de quando a mesa da cozinha estava cheia, todos esperando pelo frango assado da vovó." - a garotinha sorriu e levou consigo uma florzinha amarela de presente para sua avó.