O silêncio e o poeta

Incorreto é pensar que o poeta gosta da solidão. O poeta precisa da solidão e para que venha a inspiração é necessário a calma e o silêncio, ao menos o interior. Tem momento em que na maior balbúrdia, vem um impulso de escrever sobre algo, mas isso ocorre por que tenho dentro de mim o silêncio e ele manifesta a forma.

Ligo a minha força ao poder que existe dentro de mim e é este poder, na energia que se movimenta nele que traz para mim os sentimentos, os pensamentos e as formas que eu preciso para expressar no mundo a prosa e a poesia. Posso pensar na flor e sentir dela o seu perfume sem mesmo a tocar e assim escrever.

Olho a face de uma criança e silencio, espero. Aguardo na paz do silêncio e deixo que os sentimentos, os pensamentos e as formas se manifestem e é nesta manifestação que eu sou e expresso ao mundo aquilo que sinto, aquilo que penso e aquilo que sou. Escrevo o que vem, sem tirar nem por, respeitando apenas a forma.

Assim, o silêncio e o poeta se complementam. O silêncio é o esteio do poeta e é nele que vamos mais fundo na nossa emoção. Se no meio de uma inspiração alguém nos interrompe é como a suspensão do gozo, do bocejo ou da alegria. Posso até escrever depois, mas jamais será aquilo que queria escrever naquele certo momento.