Os percursos da inspiração

De manhã, quando canta o galo na madrugada, levanto e observo o tempo. Sei que vai chover e me preparo. Observo a vida da mesma forma e, da mesma forma que vejo as flores e sinto o tempo, abro dentro de mim a força da consciência e percebo o tempo que reverbera ao redor de mim, assim como canta o galo na madrugada.

Caminho pelas veredas do dia, assim como caminho em meio das calçadas. Os carros passam ao largo, o movimento é quase nenhum. Só as pessoas que como eu caminham pelas ruas, absortas, presas na lembrança dos dias que as consomem. O pensamento é uma canoa, disse o poeta. Na verdade ele é um poder, uma força.

Desço então a ladeira no sentido do centro. As casas todas fechadas e o movimento na cidade é quase nenhum. Alguns dizem que isso traz nostalgia, para mim traz inspiração. Gosto do silêncio no dia, assim como me mantenho puro em pensamento, para poder perceber o sentimento que me toca e me abre o coração.

Ser poeta é antes de tudo ser um sentidor. Sinto a presença da vida, assim como sinto as impressões do tempo. Ouço o canto dos passarinhos, assim como ouço o vendaval de pensamentos que ardem nas mentes sofredoras, que buscam da vida uma explicação mas que encontram dela nada mais do que uma impressão.