As normas não podem nascer de meras imitações...
Terminado o curso, a vontade de ensinar é tanta, o orgulho de ser professor, estar em frente duma turma a falar, a ditar, a explicar, controlando a turma como a palma da mão.
Participei do concurso público, fui apurado e colocado na zona rural. Lá fui todo animado levando regras da cidade. Durante o trabalho notei muita diferença, a realidade era outra: alunos mal vestidos com chinelos Facility nos pés, alunas concebidas, bebés dormindo no chão da sala (durante a noite). Era novo e não podia falar muito. Aconselhava de vez em quando para substituírem os chinelos por sapatos, as mocinhas para não se engravidarem inocentemente, às mamãs (nocturnas) para deixarem os bebés em casa. Mas, no fundo do coração percebia o sacrifício que aquele povo fazia para estudar, de tal modo que, em caso de aplicar as normas a turma ficaria vazia com dois ou três alunos apenas, já que a maioria é que não tinha bom “perfil” de aluno. Essa era a realidade: ou bota ou suporta. Percebi logo, que todos aqueles alunos tinham um único objectivo: aprender para aumentar o nível académico e amanhã poderem conseguir um emprego.
Apesar de tantas dificuldades no processo uma semelhança existia com os alunos da cidade: havia também os mais inteligentes e os menos inteligentes.
Como vantagens nos alunos rurais, notei - respeitam os professores; se tiverem que oferecer algo ao professor, fazem-na com um coração puro, sem segundas intenções!
A Direcção da escola querendo se aproximar aos costumes da cidade proibiu certas atitudes, entre as quais o uso de chilenos aos alunos. Parecia boa medida mas chocava com a realidade! Mais vale virem de chinelos que descalços – opinei, se nossos filhos têm a oportunidade de terem sapatos, há quem está precisando. Por isso, tive mesmo que “fechar os olhos” a essa medida, permitindo assim os alunos estudarem a vontade, até porque o melhor aluno da turma também estava afectado e, uma aula sem os melhores alunos, podem imaginar…
Não trazer bebé na escola sim, afecta muito nos alunos, visto que choram espontaneamente, mas chinelos? Não!
Se quiserem fazer cumprir essa norma recomendam aos guardas, não contam comigo. Vocês vão me desculpar, é que eu não tenho moral para tal, pois também passei por dificuldades como essas.
O uso de chinelos ou sapatos pelo aluno não afecta a sua assimilação se ninguém os incomodar; Alguém preferi deixar bom par de sapatos em casa para ir de chinelos a escola?
Como vou botar um aluno, que teve pressa para vir a escola aprender, para fora da turma só porque calçou uma chinela, quando se calhar esse aluno nem sequer meteu alguma coisa no estômago?!
Os alunos “pobres” não têm culpa de não terem condições e seus pais também não são culpados de não terem possibilidades.
As normas não podem nascer de meras imitações, as normas devem respeitar o contexto.
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