AS APARÊNCIAS ENGANAM...

(Christiano Abelardo Fagundes Freitas)

Peposa ou “pepa”, como a chamam os mais íntimos, é bastante jovem, mas, apesar da pouca idade, logo cedo teve de aprender com a ingratidão dos homens.

Descobriram que “pepa” estava grávida ou prenha, como preferem alguns, na verdade, pouco importa, pois, segundo Aurélio, tais palavras pertencem ao mesmo campo semântico.

A prenhez foi a gota d’agua!!! Pepa foi posta para fora de casa, mesmo que naquela manhã chovesse muito! O sal de sua lágrima misturava-se com a água da chuva.

Sem ter para onde ir, “pepa” ficou perambulando pelas ruas movimentadas da cidade, à espera de afago, de carinho, de teto, enfim, de afeto! Agora, entendemos o porquê de Machado de Assis não ter querido filhos!

Sorria, quando uma criança ou uma pessoa mais “madura”( nas coisas do coração) lhe davam um pedaço de pão ou um pouco de leite. Este, então, lhe era muito necessário, pois, em breve, estaria amamentando...

Numa tarde de quarta-feira, quando tirava um cochilo, à sombra de uma mangueira, teve o sono interrompido.

Assustada, levantou a cabeça, pois o resto do corpo já lhe pesava, “pepa” não tinha a mesma habilidade, mesmo que jovem! As cinco semanas de gravidez já lhe faziam a diferença, talvez pela fragilidade do corpo...

Era um carro, daqueles que recolhem seres sem lar, sem afeto, sem sorte!

Pepa sentia que aquela seria a pior viagem de sua vida. Pressentia que, desta vez, não estava indo para a casa de praia, nem de campo, como de costume...

Pepa foi levada para um daqueles órgãos governamentais que “sacrificam” esses animais abandonados.

Dois dias naquele local, “pepa” sentia, paulatinamente, a redução e a aflição de seus colegas de cela.

Foi neste instante de desespero, quando, além dela, só havia mais uma criatura, que “pepa”, mais preocupada com a vida de seus filhos do que com a própria sorte ( coisas de mãe), entrou em trabalho de parto e deu à luz dois lindos filhotes. Era, também, a sua salvação, pois, agora, “pepa” não poderia ser sacrificada: tinha de cumprir o seu nobre papel de mãe!

Diz-se que era a sua salvação, porquanto “Francisco de Assis”, mais conhecido como KIKO, funcionário daquela instituição, diante de gesto tão materno, adotou os três.

KIKO de Assis pensa como Machado ( que, também, é de Assis), pois não quer filhos, mas provou que sabe respeitar os “irracionais”.

FREITAS, Christiano Abelardo Fagundes. O verso e o avesso do bordado . Editora Grafimar. Campos dos Goytacazes.2010.