EM BUSCA DOS SONHOS...
"SE ESTOU VIVO, EU AINDA MANDO"!
Foi exatamente o firme soar dessa frase que inspirou o meu presente título,a me fazer refletir no meu escrito sobre o tema "envelhecimento".
Eu passava por ali quando ouvi enfaticamente aquele senhor senil, lúcido e sofrido, já um tanto "dependente" da família, ordenar a todos para que entendessem que ali ele proclamaria uma sentença definitiva: a de fazer valer a sua vontade.
" Se estou vivo, eu ainda mando!"
O tempo lhe chegara duma forma meio cruel, muito limitante, como pode nos chegar a todos, sem respeitar nossas escolhas, nossos derradeiros sonhos e nossas vontades.
Não é fácil para ninguém passar por ele, principalmente para aqueles que sempre foram independentes a vida toda, ativos, ágeis, e que de súbito se vêem dependentes dos outros, ainda que seja dos presentes cônjuges e atenciosos filhos, como era naquele caso.
Ele, já quase nonagenário, trazia consigo traços duma cultura patriarcal, na qual a palavra de pai era ordem, e assim acreditava que a faria valer com a costumeira autoridade.
Talvez uma das etapas mais difíceis de se enfrentar ao atravessar o tempo é não perceber que os tempos, de tempos em tempos, mudam muito...sem nos dar o devido tempo de nos acomodarmos às mudanças, muitas vezes profundas demais.
Envelhecer, portanto, é uma dinâmica de vida complexa, não pressupõe apenas se passar linearmente pelo tempo,
pressupõe também atravessar grandes transformações por dentro, por fora, e no entorno da gente.
São transformações gradativas, aparentemente lentas, porém que acontecem, paradoxalmente, depressa demais a nos exigirem serenidade, compreensão e aceitação.
Há o que a gerontologia qualifica de "empoderamento" e havemos de cultivar a manutenção do nosso "poder" de manutenção da qualidade e dignidade da vida.
Envelhecer com saúde e qualidade, portanto, seria a melhor forma de nos mantermos no "empoderamento", que em última análise significa autonomia e independência.
Autonomia, a qualidade de se sustentar pelos seus próprios meios físicos e emocionais, de se manter e de se direcionar pela vida, e independência, a qualidade que nos torna insubordináveis à outrem, com manutenção da próprias decisões e vontade, ainda que financeiramente, algo socialmente complicado no nosso país que tanto negligência a real providência pela previdência social justa e digna a todos, principalmente àqueles cuja força do trabalho da vida ativa tanto contribuiu para a produção das riquezas do país.
Envelhecer no Brasil não é tarefa das mais fáceis e fornecer qualidade de vida aos idosos daqui para a frente , num país que tão rapidamente envelhece sob as desestruturas sociais, pressupõe medidas sócio-políticas urgentes e sérias.
Há que se plantar o envelhecimento digno e organizado da Nação.
Enquanto isso, fiquemos apenas na teoria do que seria esse natural fenômeno "envelhecer' que tanto se avoluma entre nós.
O que tenho percebido: se dizem por aí que saber viver é uma arte, saber viver envelhecendo é pura sabedoria.
Enfim, a de se saber administrar o grande conflito que nitidamente se estabelece entre a "possibilidade e a vontade" e permanecer no contexto da vida.
A exemplo daquele senhor: Enquanto a existência nos permitir, que também sentenciemos nossa vontade e busquemos pelos nossos sonhos...
Esse é um direito natural que ninguém nos poderá negar.